quinta-feira, 22 de julho de 2010

"A Codificação do Tempo"

A perceção do fluir dos acontecimentos, os nossos, os dos outros e do próprio mundo, faz-se ancorada no conceito de tempo.
Para quase todos nós, a temporalidade é como que uma linha invisível que tem uma orientação definida.

Curiosamente, a orientação dessa linha, que congrega a sagrada trilogia do passado-presente-futuro, é diferente de pessoa para pessoa.
Se o presente costuma ser o eixo central a partir do qual tudo o resto se organiza, o passado e o futuro são sentidos como ocupando topografias diferentes.

Para uns, o passado é o que está para trás e o futuro o que está para a frente, como se a tal linha imaginária fosse uma espécie de estrada em que se caminha.
Para outros, o passado e o futuro têm uma configuração bem diferente e são "vistos" como limites laterais, algo idêntico a pratos de uma balança sempre em equilíbrio instável.

Estas diferentes formas de codificar mentalmente a temporalidade, para lá de uma curiosidade, são, também, uma forma de nos apercebermos por que é que alguns de nós parecem lidar com facilidade com o que aconteceu e com o que virá a acontecer, ao passo que outros exibem permanentemente uma mistura de recordações e emoções antigas, por vezes à mistura com projeções de um futuro eivado do que foi.

Qualquer destes sistemas, que não escolhemos, mas que se estabeleceram em nós como parte integrante da nossa forma de ver o mundo, tem vantagens e inconvenientes.

Pôr tudo para trás das costas, se tem o benefício de não ter de se acartar vida fora situações desagradáveis, também significa não se valorizar devidamente experiências e aprendizagens que poderiam ser úteis.

Manter passado, presente e futuro ao mesmo nível, por seu turno, se permite uma imensa largueza de emoções, também é verdade que dificulta a escolha mais conveniente e adaptada ao momento atual.

Em qualquer caso, seja qual for a perceção que tenhamos, que, convém que se diga, pode, com trabalho e esforço, ser alterada, vale a pena reforçar a ideia de que as nossas perceções sobre a realidade não são, nunca são, a realidade.


ISABEL LEAL, Crónica "A Codificação do Tempo"

1 comentário:

MaryJane disse...

e não é que gsto muito do novo visual do teu blog?
ahahah saudades xu :')