domingo, 28 de fevereiro de 2010

Vamos dormir para sempre?


Oioai - Aqui não se aprende nada

anseio
o que não acontece
e durmo
para não acordar
do sonho
que me leva daqui
à terra
onde nunca vivi

eu sei que amanhã vai ser diferente
eu sei que amanhã vou estar contente
eu sei que amanhã vai ser diferente
eu sei que amanhã vou estar

contente
ausente
carente

estar contente
emocionalmente
decadente
carente

aqui não se aprende nada
não aqui não se aprende nada não.
A semana por cá só vai ter dois dias e meio. Quando é que me encantas Lisboa?

Conta o acaso

A J saiu mais cedo, quis fazer-se ao tempo. Pegou em todas as suas coisas e segurou-as na mão com toda a força. Subiu a estrada, procurou a pressa para fazer o que esqueceu e, depois, voltou a descê-la. Sentou-se à espera do que a vinha buscar, escondida em desejos que não cresciam aos mais prudentes. Nela eram os mais férteis. Sempre.
Após alguns minutos chegou à praça onde teria que sair. E lá ficou ela à espera de algo que se movimentasse mais rapidamente. A espera termina e dois abrandamentos de velocidade mais tarde - sim, penso terem sido dois! - ele entrou. A J pensou logo que ele era um F. Ou um M, em último caso.
Ficaram de frente um para o outro, uns ínfimos metros afastados, ele à direita dela. Acabaram por sair no fim da linha, e enquanto ela demorava para perder tempo, ele avançava. Ela passou-lhe a perna. E ele ficou para trás.
O engraçado foi vê-lo, no limite da desvantagem, a sentar-se precisamente no lugar vazio que estava na frente dela. Ambos olhavam o chão, para evitar encararem o acaso. Desta vez durou 3 minutos porque voltaram a sair.
A J foi na frente e quando precisou de entrar escolheu propositadamente um local que não estivesse completamente preenchido, e com outras hipóteses de ser completo ao lado também. Ele sentou-se desse outro lado. Os olhares iam de uma janela para a outra e não só. Que coincidência! Quando chegaram ao fim, caminharam para sentidos opostos. Ele enganou-se e ela teve um problema pelo caminho (resolveu-se, aliás como tudo).
Entretanto separados, a J não achava provável voltarem a ver-se, ainda mais naquele dia.
No momento em que chega lá em cima, cansada, olha para a sua frente e estava também ele a vir, a chegar ao mesmo tempo. Nenhum dos dois tinha a ida garantida mas ficaram lado a lado e ela ouviu-o conseguir e ele ouviu-a a ela.
Ele precisou de ir. E foi assim que se separaram, por culpa de uns meros 30 minutos.

Esboços

- Estás à espera de quê?
- De ti.
- Nem sou capaz de traçar linhas que esbocem essa ideia.
- Sou eu que quero que esboces.
- Não vejo uma única razão para tal.
- Porquê? Porque és tu que agora não queres? Ou porque o teu lápis não está suficientemente afiado para desenhares as linhas com que tens vontade de me magoar?
O dia, a tarde, a noite. A duração cronometrada do que não tem fim e que colide com tudo o que se esconde.
Há meios que conduzem a uma paragem obrigatória, mas talvez se tenham perdido no caminho. Tal como a Florbela Espanca se perdeu de amores.
Diria que são gritos afagados no silêncio escuro da noite. Vozes que perduram num eco que não larga as raízes do que vive e se alimenta de cada milímetro que crescem.

Para a Xi (:

A Xixi fez anos na sexta! E por ser das melhores coisas do meu mundo aqui fica o MAIOR BEIJO que lhe posso dar!

Obrigada por tudo, sempre!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um ano... blogosferável

Palavra a palavra começa a linha a ganhar forma. Começo pelos contornos, mas posso ir logo directa ao essencial, a cortar caminho porque a inquietação é longa. Quando assim é estou mais ausente de mim, menos cheia e mais vazia.

O gosto por criar nunca murcha, mas a impulsividade que me salta do ser para o tacto provoca-me dissabores com as letras quando tende a ter uma persistência maior do que a da tinta ou do carvão.

Um dia vou aprender o caminho da espontaneidade literária seja lá ele de que cor for! Vou começar por pegar numa mochila e enchê-la com uma pilha de ideias que seja suficiente para me alimentar a fome durante a vida! Irei correr o mundo da escrita sem me preocupar com contra-ordenações absurdas pela falta do cumprimento de regras de gramática.

Já fiz o plano da viagem: vou visitar memórias, conhecer vidas, perguntar por sinónimos quando o significado não me agrada, subir aos tectos trabalhados por metáforas, mergulhar nas profundezas da dor e passear nos trilhos da felicidade. Há anos que sonho conseguir que a poesia deslize sobre os meus dedos com equilíbrio e desejo ainda conhecer tantos vocábulos quantos forem possíveis para melhor materializar o sentimento em arte.

A distância será medida em ideias e é por esse motivo que estou certa que a viagem parecerá interminável! E esse é o lado empolgante, saber que demorarei a eternidade a concluí-la, o que me deixa tempo suficiente para explorar todos os confins da escrita.

Se me falta a força no pulso é que estou tramada! Como é que trilharia tais caminhos sem me fazer acompanhar por ela? A viagem não teria sabor! Comparo-a, em tal insuficiência, a tocar e não sentir! Nada similar ao momento em que o paladar descobre um alimento insonso, nem lá perto, pois esse consegue-se saborear e desagrada! Seria algo como morrer à sede, ser dizimada por não ter em mim algo vital, ainda que inacreditavelmente insípido e inodoro.

Preciso de continuar a estudar mapas que me conduzam os passos para os parágrafos certos. Nestas coisas não se pode facilitar, ou ainda se mete a criatividade pelo caminho errado. E depois atrasa-se e chega quando já não tenho papel para a desenhar!

Se quiserem vir comigo apareçam por aqui, metemo-nos a caminho no escuro da noite, a mesma que me tem trazido até vocês durante a maior parte de todo este tempo. Qualquer dia é bom para começar a viagem desde que deixem que as palavras vos penetrem na pele com a mesma força com que os meus sentimentos caem nelas.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desafio

Estava eu a passear pelo Nódoa Offline! do Pedro, quando me deparei com este desafio que ele encontrou num outro blog.

Como o achei divertidíssimo experimentei e em baixo podem encontrar o meu resultado! Para o caso de quererem brincar também um bocadinho deixo-vos aqui as regras. A propósito, o nome do desafio é algo como "Cria a tua própria banda":

1 - Ir a uma página aleatória da wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Special:Random. O primeiro nome que surgir será o nome da banda.

2 - Ir à pagina das citações aleatórias http://www.quotationspage.com/random.php3. As 3 ou 4 ultimas palavras serão o nome do CD.

3 - Ir à secção "explore the last seven days" do flickr http://www.flickr.com/explore/interesting/7days. A terceira imagem, não interessa o que seja, será a capa do CD.

4 - "Cozinhem" tudo no photoshop (ou algo semelhante).

5 - Postem no vosso blog, facebook, etc juntamente com as regras.




O nome da minha banda é Ludwig Milde, um antigo compositor de música para baixo.
Já o título do CD provém de uma citação de Coco Chanel :"In order to be irreplaceable one must always be different". Quanto à fotografia que lhe serve de capa foi tirada em Montreal, no Canada, no The Chinese Garden.

Divirtam-se!

119

Seth - It's always been you Summer!

Mentir, mentira e mentirosos.

Disseram-me agora que "dizer a verdade é mais bonito, mas a mentira é aquilo que por vezes nos mantém em pé".

Pois a minha resposta é:
a mentira não mantém ninguém em pé, é uma muleta em que a ponta inferior é falsa. Ou seja, um dia parte. E nesse dia caímos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

"Um dia páro de viver no passado e passo a conjugar a vida no presente."
As unhas cantaram uma música quando os dedos se encostaram. E ela começou a criar.
Uma nota mais alta deu outro tom à música, alegre, real. Ela continua a brincar, entretida com a melodia como se fosse uma criança. E não mais quer parar.

Porque é bom andar de mãos dadas com o balanço da música.

(Este é o último, espero)

Estou a tocar nele, a passar-lhe os dedos e a dobrá-lo, porque este deixava e não era como os outros, dizias tu. Está a distrair-me do que me devia manter atenta, mas não quero saber.

Estou a afastá-lo, quase a dar-te espaço. Quase. Não te entusiasmes. Já não terás mais desse espaço.

Vou voltar a dar-lhe o lugar correcto, mas estava a eriçar-me a pele. Ainda está. Arrepia-me. Calafrios perdidos na falta de vontade que cavalga o dia.

Não consigo parar de deslizar a ponta dos dedos sobre a linha que o delineia. As palavras ocupam-me a mão direita, mas a esquerda insiste em ir buscá-lo.

Vou largá-lo, não facilmente, porque é algo que está a ser premeditado desde que comecei a escrever estas linhas. Quase cheira a ti, de tão perto que sempre te deixei estar. De tantas vezes que o olhavas. Das palavras que lhe colocaste em cima. De dias em que foste tu a segurá-lo por entre os dedos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Coisas da água e da terra

A água está tão diferente hoje. Dá vontade de fugir pela janela e dar um passeio sobre ela.
A terra é feita de infinitos grãos que juntos lhe oferecem consistência. A água é feita de muitas mais gotas que juntas não são capazes de resistir aos meus passos sobre elas. Gostava que por um só dia fingissem que não são assim e não contassem a mais ninguém que só me fizeram cócegas na planta do pé e deixaram secos os meus arcos plantares.
Tal como o chão consegue fazer, mas isso é o que ele faz a todas as pessoas, não é segredo nenhum!

Move on (:

I looked at the window and I saw a bright sunny day! I put on a dress and then I smiled (:

Mas é Domingo à noite...

Estou a escrever de madrugada e começo a sentir-me fatigado. No quarto ainda é noite, embora o halo receoso que atravessa o vidro fosco da porta tenha vindo a aproximar-se sorrateiramente do cone de luz clandestina que incide sobre a secretária. Há anos que projecto substituir por um rectângulo de madeira aquele vidro desabitado que às vezes me traz a alvorada antes que eu a deseje. Mas vou adiando sempre. Talvez porque espere que, através dele, voltem a coar-se os vultos, o rumor agitado da casa, de quando eu era menino e tinha birras e doenças imaginárias só para negociar a minha anuência aos remédios com a promessa de me deixarem calçar umas botas brancas. Umas botas saloias, tal como as do Zé Fadista — o gaiato mais feliz do bairro, porque vestia e calçava tudo o que nos era interdito. De há muito que o halo não tem sombras nem rumores: apenas a madrugada sem corpo e sem voz, e enorme porque ninguém a preenche.

Fernando Namora, in "Domingo à Tarde", 1961

Voa comigo!

Um dos meus escritos preferidos do poeta!


"Walt Whitnam e os pássaros"

Ao acordar lembrei-me de Peter Doyle. Deviam ser seis horas, na austrália em frente um pássaro cantava. Não vou jurar que cantasse em inglês, só os pássaros de Virgínia Woolf têm privilégios assim, mas o júbilo do meu pisco trouxe-me à memória a cotovia dos prados americanos e o rosto friorento do jovem irlandês, que naquele inverno Walt Whitman amou, sentado ao fundo da taberna, esfregando as mãos, junto ao calor do fogão. Abri a janela, na escassa claridade que se aproximava procurei, em vão, a delícia sem mácula que me despertara. Mas de repente, uma, duas, três vezes, ouviram-se uns trinadinhos molhados, a indicar-me um sopro de penas que mal se distinguia da folhagem. Então, invocando antiquíssimas metáforas do canto, peguei no livro venerando que tinha à mão e, de estrofe em estrofe, fui abrindo as represas às águas do ser, como quem se prepara para voar.

(Eugénio de Andrade)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

"Repetida ao expoente da loucura"


Ornatos Violeta - Ouvi Dizer

Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

Quero continuar a querer deixá-lo assim.

Vou mudar o teu nome.
Deixei o parágrafo a meio e vou querer deixá-lo assim.
A chuva caía como que sendo uma premonição do dia que estava a nascer. Mas mesmo antes disso, foi difícil convencer o sono de que tinha que me vir apanhar à zona dos resistentes, porque eu estava incapaz de me deslocar até ele. Acabou por não vir, talvez por causa de um engarrafamento de gente que quis sair à rua a altas horas da noite. Enfim, tive eu que o encontrar, já perdida nas horas e agarrada a um medo que me tinha crescido fazia um dia. O medo não mingava, devia ter uns bons genes porque se acentuava de clique em clique, palavra a palavra e até à estranha falta delas. Dormi sem dormir.

Com o aclarar da rua, lá se foram os outros levantando e eu ali, sem querer mexer-me. Enrolei-me no meu medo, nos cobertores, no calor que fingia reconfortar-me. A minha cabeça fartou-se e quis fugir desse conforto, talvez na esperança de me acordar de vez. Ainda não, nem assim. Deixei-me adormecer quase por uma hora, a única tranquila. Como é que eu sabia que seria a última?

Os olhos abriram-se, encolhidos. Quieta, a olhar o tecto, lá fiquei mais uns 13 minutos. Revivi e antevi. Pus duas mil hipóteses, inventei quase tantas reacções. Previsões do meu estado é que apenas surgiu uma.

O estado deixou de ser uma previsão.
"Fool me once shame on you. Fool me twice shame on me."

sábado, 20 de fevereiro de 2010

About our garden

I built a nest for the lovely birds that give charm to the peach-tree. I pruned all the roses that were in the left side of the fence. I picked up the best orchids and did a small bunch with them just to add some color to your room. I watered the leaves so they don't loose their exuberance. I trimmed the hedge, carefully, to not let it loose its' buds while emerging. I made the weeds stuck between the beauty and the land die.
But after all I'm the naive who cluster the old leaves you left fallen on the ground during the last two months. I'm feeding the history they lived by clustering them all and make them see they still are present in the same small space.
But you only realize the grass I cut, you only care about the hard work that I spare you and that I insist to do to make this garden look minimally appreciable.
You're blind and unable to see what it's always been about.

There are moments I can't help but ask why do I carry the rake in my hands.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A mim!



Este foi um dos que quis provar a sua dureza no "Though Guy Challenge".

Eu não quero isso. Desculpem não me render à tendência para a exibição. Eu não preciso de provar nada a ninguém. Aquilo de que me quero orgulhar é poder provar unicamente a mim própria de que sou forte o suficiente para aguentar o que quer que seja. Não digo que não quebre por motivos alheios à facilidade; aliás, quebrar é-me tão familiar quanto o trago a chocolate quente que apetece nestas tardes! Mas é isso, não me rendo.

(maybe not!)

Tenho constatado que o 076 e o comboio são as duas coisas com maior falta de sincronização do mundo.

E eu que pensava que nada nos superava? Às vezes precipito-me!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"As horas que não passam"

"As horas passam como gotas de chuva a escorrerem na vidraça da janela.
Eu sentada a olhar para o vazio, que há muito que perdi a rua, os carros e tudo.
A noite apareceu de repente e eu não dei por isso. Só a luz amarela dos candeeiros da rua: um, dois, três, derramada sobre o sofá, a carpete e a escorrer pelo chão de madeira.
O silêncio comeu tudo. Este silêncio pesado que abraçou a minha vida como se do fantasma da morte se tratasse. Entrou devagarinho, sorrateiramente pela calada da noite e depois foi-se deixando estar, cada dia um pouco mais até ocupar toda a casa, até ocupar todo o meu corpo.
Não quero olhar para as fotografias que teimosamente ainda não consegui retirar da sala e me mostram outra que já não sou a rir, de braços abertos para a vida, coração leve e desbragado.
Não quero mexer-me. Sei que se esperar mais um pouco vou deixar também de respirar. Sem esforço. Sem que me doa sequer.
O telefone que não toca. A campainha da porta que não se ouve e a luz amarela dos candeeiros que parece brincar com os desenhos do tapete.
Havia um gato preto, gordo, que aparecia na minha minúscula varanda. Ainda lhe dei de comer, tentei afagá-lo mas eriçou o pêlo e esquivou-se. Um dia deixou de aparecer. Tenho a certeza de que o silêncio lhe pesou tanto quanto me pesava a mim no início, quando o meu corpo ainda teimava em mexer-se.
Agora, o verdadeiramente difícil é mover um só músculo. Verter uma última lágrima.
Se ficar aqui até ao fim, quem sentirá a minha falta?
Não tu, seguramente, não tu
" (Luisa Castel-Branco)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Impedida

Até era capaz de explicar.
Mas não, a chuva cobre-me sempre que estou prestes a faze-lo.
"During the 1960s, I think, people forgot what emotions were supposed to be. And I don't think they've ever remembered." (Andy Warhol)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Que imperfeito que és.

Nunca me esqueci de quando aparecias de forma subtil, a espiar as brincadeiras de criança. Eras diferente, não tinhas pontas aguçadas nem sequer uma concavidade menos redonda. Nem te conhecia ainda para ser sincera (ai de ti que me maltrates de novo por esta confissão!), mas achava-te piada. Fazias-me fugir pela janela grande para a calçada escura que dava para o muro das camélias e de uma variedade de flores de que não me lembro. Levavas-me a correr à volta das mesas e olha que me escondi no cantinho das almofadas por tua causa!

Por favor, cala-me essa tua impulsividade!

Porque é que alteraste essa tua forma? Deixaste de me preencher. Perdeste a essência. Transformaste-te. Desapelas-me.

Como é que serás visto à distância? Melhor, asseguro.

Lembra-me de alguma vez em que tenhas batido à porta ou até escrito um lembrete para eu me aperceber de tudo quando chegasse. Nem tu és capaz de mencionar um dia em que o tenhas feito. Não deixaste a porta entreaberta, a página a fugir da gaveta ou o olhar a desviar-se.

Agora já conheço os cantos à casa, descobri-te todos os vértices onde culminam as arestas das histórias que um alguém vai construindo comigo. Sempre diferentes, sempre erróneas. Erróneas não, curiosamente imperfeitas. Dolorosamente imperfeitas.

IV 12

Tenho em mim a insegurança de quem sabe o que quer.

(julgo que no nosso mundo isso não vale nada!)

III 12

Existe alguma teoria para devolver à vida o que se perde? Não me lembro de ter aprendido alguma...
Mas que pergunta ora bolas! Há coisas que precisamos de aprender connosco, sem páginas com erros de outrem, sem a voz de uma experiência ou resultados que não nos dizem respeito.

Então mas eu já não aprendi algumas coisas?
Vou pedir uma licença para vender clarividência, disso já eu tenho demais. Alguém é servido?

II 12

Nestes últimos dias, com o meu mundo a ficar mais pequeno, encontrei-me lá mais vezes do que queria. Despida de preocupações e atolada das coisas pelas quais me proibi de ansiar.

Comecei da mesma forma, como em qualquer um dos demais dias. Calma, estou a ver o resto... Não, é-me impossível entender quando é que aquilo começou. Ouve uma outra vez antes, só uma, mas foi contigo que isso surgiu.

Hoje foi comigo. Deves ter-te apercebido, mencionaste-o ao de leve com 3 palavras que deixei que caissem no esquecimento para não nos atrapalharem. Ai está bem, não eram por hoje mas pelos dias em que eu pensei nessas mesmas palavras para ti. Mas tu para mim? Já me olhei, pensando nesses mesmos dias, e não as achei na minha pele. Na tua voltei a achar.

Questiono-me sobre a minha leitura. Acho que já não me sei ler. Nem a ti. Nem... nada, isso não é para aqui chamado. Isso é diferente, está sempre descontextualizado e não lhe encontro contexto.

Estou a inventar histórias para os próximos dias e a fazer apostas com o meu eu fragmentado. Sou tão previsível para mim própria. Não me vejo capaz de acreditar numa única das tuas frases. Mentira! Talvez pense em duas ou três com um pouco mais de confiança. Mas em todas elas és diferente, porque nunca sei com que palavras te hei-de escrever. Culpa do tempo e tua também! Que se lixem as outras histórias, tenho que me preparar para o minuto de choque que aí vem e no qual vou perceber que vou ganhar; e a vitória aqui é a pior das hipóteses. E eu que passei a vida inteira a querer ganhar?

Estou a reequacionar o que será pior... se pensar naquela coisa sem contexto ali de cima, talvez ganhar me permita achar-lhe um contexto. Que tal?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

I 12

Não foi como das últimas vezes. O ar estava abafado com uma ausência que não se fazia esperar e que apareceu já as horas totais iam pela sua metade.
Esta é a turbulência posterior aos momentos de que a minha memória se lembra. Ainda agora começou a invasão e já me pergunto se não havia um cruzamento onde cortar para se desviar de mim.
Estou tão cansada... Não fosse já a indefinição uma das coisas em que tinha tropeçado e que me ocupava a tempo inteiro... Agora isto...
Eu ia e sabia porque ia... Para que ia... Agora pergunto-me porque fui.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O amanher em Lisboa...

Incrível como a esta hora da manhã elas já rasgam o céu com tanta vontade. Irrompem-no sem medo, não tendo a nossa doença maldosa de pensar no que vem a seguir. Asas abertas, seguras de quem tem o céu a seus pés. O voo não é picado nem mole, consegue ter a velocidade suficiente para que elas se desloquem graciosamente, ao mesmo tempo que ostentam aquele ar imponente de quem é dona de todo o espaço que de azul celeste se vai vestindo.

Chegaram mais cedo do que eu, desta vez atrasada no comboio, mas mais vezes atrasada na vida, embriagada no meu balanço errante.

Entretanto o céu está metade bege, esta cor nas zonas vizinhas do sol. Tem graça, nunca o tinha visto ganhar este tom. É do melhor que esta cidade tem...
O sol está a erguer-se num pranto de cores infinitas, todas elas aparecendo em festa para lhe darem os bons dias. Mas a que ele mais gosta é o azul; é de questionar isto de se ter sempre uma preferência. Estou de frente para esse espectáculo enquanto a brisa vai namorando o início do dia e estou com vontade de desconstruir esta realidade humana que se orgulharam de edificar. Seria tudo tão mais bonito se não existisse.

As gaivotas estão a fugir, talvez tenham a sorte, ou o azar, de ter encontrado um lugar (que lhes parece) melhor. Mas ficaram duas ali, perto, debruçadas num voo raso. Outras como elas perdem-se por aí, preferem ganhar tempo apreciando o dia a crescer, as folhas das árvores a dançar, as estrelas a perderem diurnamente o brilho porque está claro que nem elas podem brilhar eternamente - fazem intervalos, mas diferentes dos meus porque os têm programados. Se os meus assim fossem ia pedir uma preparação para descobrir o caminho mais majestoso de mudar de estado de espírito. Pena não o serem...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Quando os olhares se encontram...

Foram segundos mortais, daqueles que enchem o tempo. Não sei o que foi para eles, sei apenas que se olhavam como quem olha para o que perdeu e o que nunca foi. Mais ainda, pareciam olhar-se o mais que podiam para conhecerem o que restou depois do adeus. E depois disso ainda se olhavam. Estavam ambos a percorrer e a antecipar todos os segundos em que não o iam voltar a fazer, como se fosse esta a única forma de estarem juntos, mesmo que o não quisessem. Encontravam-se nestes olhares, encontros que nunca marcavam com antecedência e eram imprevisíveis por todas as razões. Neles duas vidas se cruzam e a história não se perde, revive-se. Não descobri se significava conforto ou dor, não lhes perguntei. Porque não os dois? É uma ambiguidade que se permitia presente ali.
Tenho a certeza que estavam a contemplar a mesma coisa, mas nem eles pareciam saber o quê.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Just like sunday morning...

Sunday morning?

I say... friday afternoon! All of those whether the rain is falling off or not. And you know I wouldn't be gone if I could... But do you know what I like about that? About being gone? I love when I'm on my way to leave and you come behind me and close me in your arms and then fend my hair to lean your head right over my neck while your lips trace those outlines...



Maroon 5 - Sunday Morning

Friday afternoon time is racing and (for now) I'm not leaving you...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Manhattan

De génio!



Woody Allen, 1979

Manhattan II

Isaac Davis: I feel like we're in a Noel Coward play. Someone should be making martinis.
---
Isaac Davis: I had a mad impulse to throw you down on the lunar surface and commit interstellar perversion.
---
Tracy: I'll be back in six months.
Isaac Davis: Six months are you kidding? Six months you're gonna go for?
Tracy: We've gone this long, well what's six months if we still love each other?
Isaac Davis: Hey don't be so mature okay? Six months is a long time! Six months, you know you're going to be in working in a theater there, you'll be working with actors and directors, you'll go to rehearsal, you'll hang out with those people, you'll have lunch a lot, before you know it attatchments form you know. You don't want to get into that- you'll change you know you'll be in - in six months you'll be a completely different person.
Tracy: Well don't you want me to have that experience? I mean a while ago you made such a convincing case.
Isaac Davis: Well yeah of course I do but you know, I- I just don't want that thing I like about you to change.
Tracy: I've got to make a plane.
Isaac Davis: C'mon you dont-, c'mon you don't have to go.
Tracy: Why couldn't you have brought this up last week!... Six months isn't so long... not everyone gets corrupted... you have to have a little faith in people.
---
Isaac Davis: I think people should mate for life, like pigeons or Catholics.


Quotes from Manhattan (1979; Woody Allen)

Manhattan I

Yale: You know we have to stop seeing each other, don't you.
Mary Wilke: Oh, yeah. Right. Right. I understand. I could tell by the sound of your voice on the phone. Very authoritative, y'know. Like the pope, or the computer in 2001.
---
Tracy: Let's fool around, it'll take your mind off it.
Isaac Davis: Hey, how many times a night can you, how, how often can you make love in an evening?
Tracy: Well, a lot.
Isaac Davis: Yeah! I can tell, a lot. That's, well, a lot is my favorite number.


Quotes from Manhattan (1979; Woody Allen)

"Sendo as coisas o que são"

Das minhas preferidas:

"Sendo as coisas o que são, continuamos, apesar de tudo, a suspirar para que sejam de outra maneira.

Como se percebe, isto aplica-se a tudo. [...] Mesmo que não estejamos demasiado insatisfeitos, mesmo que reconheçamos que nem tudo é mau, mesmo que não nos mobilizemos para grandes feitos, grandes mudanças, grandes buscas, de vez em quando suspiramos fundo, puxamos uns ais e acalentamos, ainda que silenciosa, a esperança de que tudo possa ser melhor.

Muito melhor, porque já agora não há razão para sermos modestos nos nossos pedidos mudos.Sendo as coisas o que são, ainda assim sabemos que umas são mais aceitáveis que outras, que umas são mais sensatas que outras, que umas resultam mais simpáticas, mais eficazes, mais lógicas, enfim, que umas são mais que outras.

Sendo as coisas o que são, e sabendo nós que a adultícia parece ser exactamente o estado de maturidade que nos permite aceitar isto mesmo sem grande revolta nem enorme zanga e, a partir daí, arranjar estratégias de gestão de uma realidade que parece produzir-se de forma autónoma, às vezes temos razões para ter saudáveis dúvidas.

Às vezes, a propósito e também a despropósito, interrogamo-nos se o conformismo necessário ao nosso conforto não tem tantas zonas de desconforto que liquida a relação custo-benefício.

Às vezes, olhando à volta o que está perto, e também o que está longe, apetece-nos mandar às urtigas a sensatez, o deve ser, uma espécie de ordem natural das coisas que corre com os dias, e partir à aventura, à descoberta de como é que as coisas, muitas coisas, seriam se não fossem como são.

A maioria de nós fica pelo caminho, porque se distrai, porque se ocupa com estímulos directos que precisam de respostas imediatas. Alguns desistem pela consciência da enormidade da tarefa ou por não vislumbrarem a ponta por onde se pegar.

Felizmente, para todos nós, que há sempre alguns que, por boas ou más razões, nunca crescem o suficiente para saberem lidar com o que acontece por perto.

São eles que apontam o futuro e servem de vanguardas à nossa temerosa descrença e à nossa incipiente esperança."
(Isabel Leal, 2010)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Não fictícia

- Pára de não me levar a sério.


Já devias saber que não levo. E nisso? Pedes-me nisso?
Mas numa coisa acredito: tens o maior sentido de oportunidade que alguma vez descobri em alguém.

Eles não sabem escrever!


Não gosto que as histórias não caibam num olhar... E não gosto que não as saibam escrever...

E não me venham cá com histórias dizendo que o que é preciso é talento para as saber escrever! É preciso mais, muito mais do que isso!

Mas há simplesmente quem não saiba.

Dancing with myself.

Oh I'm dancing with myself but I would ask ___ to dance!


Nouvelle Vague - Dancing with Myself

On the floor of Tokyo
Or down in London town to go, go
With the record selection
With the mirror reflection
I'm dancing with myself

When there's no-one else in sight
In the crowded lonely night
Well I wait so long
For my love vibration
And I'm dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

If I looked all over the world
And there's every type of girl
But your empty eyes
Seem to pass me by
Leave me dancing with myself

So let's sink another drink
'Cause it'll give me time to think
If I had the chance
I'd ask the world to dance
And I'll be dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
If I had the chance
I'd ask the world to dance
If I had the chance
I'd ask the world to dance
If I had the chance
I'd ask the world to dance

Inquietação

"Cá dentro inquietação, inquietação, é só inquietação, inquietação. Porquê, não sei, mas sei, é que não sei ainda. Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer. Qualquer coisa que eu devia resolver. Porquê, não sei. Mas sei que essa coisa é que é linda."
José Mário Branco

Cola?

Quase todas gostámos de passar dias infindáveis a pentear o cabelo delas e a não desistir da ideia de o deixar completamente liso nem que para isso tivéssemos que passar o cabelo por água vezes sem conta! Quase de hora a hora também lhes trocávamos a roupa mais casual pelo vestido de noite que nós próprias adorávamos um dia vir a usar e não me admiro se disserem que eram mais os dias em que as deixavam com um pezinho descalço, porque os sapatos eram tão pequenos que se perdiam nos nossos dedos.
Eram incrivelmente bonitas. Aliás, ainda hoje o são.
Combinei-lhes imensos encontros e presenciei-os a todos! Adorava inventar-lhes amores...

Agora não brincamos...
Percebi que afinal não são feitas da mesma matéria que eu e que de essência pouco têm!
Mas o que é isso comparado com a inveja que lhes tenho?
É que... elas têm cola por dentro sabem? Daquela que não deixa que qualquer coisinha se desintegre... Não se vê, não se sente e deixa-as viver sem quaisquer marcas!

Eu não tenho cola, nem tu, nem tu, nem tu ou tu... O que todos temos são histórias que têm fim ou que ainda estão por acabar de escrever e todas, se bem que umas muito mais do que outras, deixam uma qualquer marca.
Mas eu cá gosto da marca... afinal enganei-me quando disse que tinha inveja da cola!

Posso não querer?

Está quase. Tão tão tão mas tão quase.

Isso irrita-me. TANTO.



The White Stripes - I Just Don't Know What to Do With Myself
Pela primeira vez não senti nada de menos bom por qualquer pedaço de história!