domingo, 14 de fevereiro de 2010

Que imperfeito que és.

Nunca me esqueci de quando aparecias de forma subtil, a espiar as brincadeiras de criança. Eras diferente, não tinhas pontas aguçadas nem sequer uma concavidade menos redonda. Nem te conhecia ainda para ser sincera (ai de ti que me maltrates de novo por esta confissão!), mas achava-te piada. Fazias-me fugir pela janela grande para a calçada escura que dava para o muro das camélias e de uma variedade de flores de que não me lembro. Levavas-me a correr à volta das mesas e olha que me escondi no cantinho das almofadas por tua causa!

Por favor, cala-me essa tua impulsividade!

Porque é que alteraste essa tua forma? Deixaste de me preencher. Perdeste a essência. Transformaste-te. Desapelas-me.

Como é que serás visto à distância? Melhor, asseguro.

Lembra-me de alguma vez em que tenhas batido à porta ou até escrito um lembrete para eu me aperceber de tudo quando chegasse. Nem tu és capaz de mencionar um dia em que o tenhas feito. Não deixaste a porta entreaberta, a página a fugir da gaveta ou o olhar a desviar-se.

Agora já conheço os cantos à casa, descobri-te todos os vértices onde culminam as arestas das histórias que um alguém vai construindo comigo. Sempre diferentes, sempre erróneas. Erróneas não, curiosamente imperfeitas. Dolorosamente imperfeitas.

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