quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

L.S.F.

JOSÉ GONZÁLEZ - Heartbeats

One night to be confused
One night to speed up truth
We had a promise paid
four hands and then away

Both under influence
we had divine sense
To know what to say
Mind as a razorblade

To call for hands of above
to lean on
Wouldn't be good enough
for me, no

One night of magic rush
The start of simple touch
One night to push and scream
and then relief

Ten days of perfect tunes
The colors red and blue
We had a promise made
we were in love

To call for hands of above
to lean on
Wouldn't be good enough
for me, no

And you, you knew the hand of the devil
And you, kept us awake with wolves teeth
sharing different heartbeats
in one night

To call for hands of above
to lean on
Wouldn't be good enough
for me, no

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Uma mão: abrigo às gentes da rua

Afligem-me as situações dos que não têm voz.
Assustam-me as políticas de quem não age activamente contra essas mesmas vozes mudas.
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16 de Novembro de 2010.

Acompanhei por uma noite uma das equipas de rua da Comunidade Vida e Paz. Nas fotografias abaixo, podem ver a entrada da casa do António e ainda o Mateus debaixo do seu próprio tecto, a casa que, com a ajuda do amigo, construiu sobre o lixo onde vive uma família de ratazanas.
Foi uma noite diferente de todas as outras e, com certeza, para repetir.
Há muitas vidas a precisar de uma mão para sairem da rua. Por que não oferecer a nossa?









"É fácil chegar à rua para por lá ficar. Costuma dizer-se: cair na rua. Mas quem costuma são os que estão em casa, os que sempre estiveram em casa e, por isso, não imaginam a facilidade com que as paredes se desfazem. Não são só os drogados, os alcoólicos, enfim, os viciados. Há tantos vícios dentro de portas. Às vezes é isso o que empurra as pessoas para a rua: o álcool excessivo de um pai, de um marido. A necessidade de encontrar um sítio onde a nossa cabeça não vá, noite após noite, bater nas paredes até sangrar. Outras vezes fugimos para a rua para não enlouquecer de desalento, para aprender a não esperar mais nada de ninguém, para nunca mais voltarmos a desesperar por amor de alguém. Estes são os casos ditos mais difíceis, resistentes às assistentes sociais, aos lares, aos «projectos de vida», à chamada «reintegração». Estúpida palavra, absurda cheia de gelo e fealdade – reintegração. Todos os reintegradores acabarão um dia, um dia não muito longe, reintegrados na terra. Ou no fogo. Isto, os que vivem na rua sabem-no melhor do que os outros. Têm a fortuna imensa de já não ter nada a perder – por isso, podem dar-se ao luxo de ficar um dia inteiro a olhar para o rio, de manter esse rito infantil do deslumbramento sem horários, sem causas ou consequências. Os que vivem na rua podem cair em buracos, passar fome e frio, estender a mão à má consciência alheia, mas as grilhetas da subserviência e da vaidade não lhes atrapalham os passos. Não dobram a espinha a cargos ou mordomias. Olham as pessoas nos olhos para perceber de que são feitas. Podem pedir, mas não se vendem – quantos dos que vivem dentro de portas conhecem esta dignidade?
Para desgosto dos altos desígnios do turismo nacional, os que vivem na rua gostam de lugares bonitos. Gostam do Terreiro do Paço, por exemplo. Um desassossego. «Tirem-nos daqui! Tirem-nos daqui!», bradava há meses uma figura do efémero poder, agoniada. Enxotam-nos e eles voltam, como gaivotas, para a beira-rio. Indiferentes à repulsa dos outros, ao medo, que já não sabem o que é. Querem metê-los em camaratas, fechá-los no recato da caridade com uma sopa e um catre – e eles continuam a fugir para dormir sobre cartões num passeio da cidade. Porquê? Porque têm as estrelas a seu favor, e a solidariedade dos que, como eles, desistiram da vida dos cartões e dos deveres e da concorrência. Na rua ninguém pergunta, ninguém pede contas, não é preciso dar resposta. Na rua pode-se chorar sem ter de dizer porquê, sem termos de recordar porquê.
As equipas de rua conhecem bem cada uma destas pessoas, percorrem a cidade todas as noites do ano para os ouvir e lhes dar conforto, procurando ajudar, compreender cada história e cada alma, sem sermões nem ordens de «reintegração». É um trabalho lento, doloroso, discreto, contínuo, sem a visibilidade pimpona das obras de cimento, que dão votos. É o trabalho do amor, aquele que nunca está completo e que sempre nos fere. Sem-abrigo somos todos nós, e muito mais os que vivem sob o tecto do êxito obrigatório e agarrados às paredes do poder do que os que vivem na rua, sem nada e sem medo."

- INÊS PEDROSA, «Viver na Rua: Sem-Abrigo Somos Todos Nós», in revista Única, Expresso, Lisboa, 17 de Janeiro de 2009 (com adaptações)

Desculpe-me.

Desculpe. Desculpe-me.

Por aqui o céu está nublado e nenhuma luz o toca especialmente, mas deixe-me confessar-lhe que sempre achei que a palavra "nublado" tem o seu quê de poético. Depreendo que não esteja tudo muito diferente aí. Um dia pesado. Uma dor densa.
Soube tarde e soube muito longe.
Desculpe-me. Desculpe-me por não estar aí para lembrar como era bom ouvir a alegria na sua voz quando cantava para mim.
De certo aquele último abraço que me deu terá sido a melhor despedida que me poderia oferecer. Eu apertei-o com força. Espero que tenha sido a suficiente para nunca se esquecer de mim.

O maior beijo do mundo.
Estimo-o muito. Lembre-se: gostei sempre muito de si. Ainda gosto muito de si.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

(nada)

Dir-te-ia que...

Em palavras, por partes,... Deixa-me começar. Quero dizer-te isto: (nada).

Não tenho palavras a morder-me a língua e no entanto reconheço o meu ponto de ebulição a norte. Quanto mais a norte... (nada).

Mas que norte? Este que... (nada).

A teia da aranha persegue a presa a parede o nada.