terça-feira, 31 de agosto de 2010

A estupidez das razões práticas da vida

"Ele entra no restaurante à hora de almoço e procura-a no meio das mesas todas iguais vistas de relance. Ela levanta o braço a fazer-lhe sinal. Aproxima-se da mesa, tira o casaco, enquanto ela simula um protesto por não a ter localizado sem a sua ajuda. Dá para me reconhecer?, diz a brincar. Ele senta-se. Ali está de novo a rir-se com ela e a pensar como é bom voltar a vê-la. Há quanto tempo não nos víamos?, pergunta, pensativo. Ela faz uma expressão engraçada, um encolher de ombros, ainda há dias nos vimos, lembra-o, demasíados, pensa. Demasíados, diz ele. Já não se vêem com a mesma frequência de antes, quando largavam tudo o que estavam a fazer para correrem ao encontro um do outro a qualquer hora do dia. Agora só se encontram a espaços. Já não estão juntos. E no entanto, ele está a ouvi-la, a olhá-la nos olhos, e a pensar um dia vou casar contigo. Ela não pensa isso, ou prefere não pensar porque não quer ter uma desilusão.
Falam das suas vidas, dos problemas profissionais, disto e daquilo, menos do que os traz sempre de volta um ao outro. Não falam disso, mas sabem o que ambos pensam disso. Outrora estavam apaixonados e não havia nada neste mundo capaz de os impedir de se quererem, mas houve um momento em que o amor acabou por ceder ás dificuldades que os afastavam. Ele teria feito tudo por ela, mas ela só queria segurança, uma vida sem complicações, e não acreditou que o amor fosse suficiente. A paixão passa, fica a razão, fria e calculista.
O empregado interrompe-os, serve os pratos que ela encomendou enquanto esperava por ele. Há uma pausa na conversa. Ele distrai-se momentaneamente, olhando em redor. O restaurante está cheio. Ao fundo, repara, uma cara conhecida da televisão almoça com a família; duas mesas ao lado, um casal acende um cigarro. O empregado retira-se, voltam a ficar sozinhos. Retomam a conversa, animados por um tema qualquer, enquanto comem com o tempo contado, com a vida pendente do que não dizem.
Saem do restaurante já atrasados para o trabalho, caminham um pouco, lado a lado, até os seus caminhos se separarem. Despedem-se, ele segura-a um segundo pela aba do casaco, como não querendo deixá-la ir. Dizem adeus, até depois. Ele vai a pensar que quer ser feliz com ela. Ela vai a pensar que quer ser feliz o tempo todo. Deixam-se, felizes pela hora que tiveram, mas ainda assim estão a afastar-se pelas razões práticas da vida que persistem em negar-lhes o que um dia os juntou."

- TIAGO REBELO, Crónica "Hora de Almoço"

Desabafo

Descobri a verdade perdida em ilusões, coberta por lençóis brancos e gastos. Exactamente como um sótão numa casa que a vizinhança apelida de assombrada. Se não mo tivesses dito, estaria neste momento a viajar sobre devaneios que pensava serem graves erros de interpretação. O óbvio, o óbvio, o óbvio. Para o meu amor era o óbvio, na minha cabeça era mentira.
Precisávamos que um navio de resgate considerasse a nossa ilha como um importante ponto de paragem. Ao que parece, há muito que não nos bastamos. Vamos morrer, isto se não estão estas palavras a ser já escritas no nosso leito de morte.
Se soubesses quantos dias me martirizei por pensar que estava enganada... Não devias tê-lo permitido. E como se isto fosse o contrato de um negócio devias ensinar-me a entender porque se nega o que nos negas.
Porque é que nunca me vieste buscar? Não dormes sob a mesma dor que eu?
Oh! Tu eras um abrigo e agora não és nada. Demitiste-te de nós. E eu queria demitir-me de ti para te fazer feliz.
O melhor seria desenharmos um mapa porque a bússola avariou. Nem que o nosso caminho esteja destinado a ser feito numa estrada sem saída.

É isso que não entendes... Percebes agora?

E se me bastar?

Perdi a fé no que finjo que tenho, que de grosso modo se entende que tenho mesmo. Ao olhos dos outros o que se vê é o que existe...
Secalhar basto-me. Secalhar. É o que vou descobrir.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

The words I cannot say in my fractured life

In an empty room
It's a lonely world
Layed out on the floor
And you're running away
From the fractured life
You've pinned to the walls

And if you can't work out
What's right and fair
It's time to escape
Cos on the other side
There's and endless life
To brighten the way

And you took my breath
And my whole life too
Please don't let me down
Cos to come undone
Without warning
Is to lose what we've found

You've got the strength within
Don't give up there's so much more to see
So many things beyond your wildest dreams
Nothing can stop you if you just believe

The world is at your feet
The future's wide and clean
The future's warm and bright
We're gonna be alright

Please don't let me down


Your Fractured Life,
AIR TRAFFIC

No more running away...

It's people scattered on the floor,
Cool war kids are running out of time,
It's such a shame to see,
It's such a shame to feel the way,

The sun comes streaming throught the clouds,
Dust and dirt are settled all around,
I hear the same old words,
I see the same old warning scars,

We're out of luck this time,
We've fallen apart,
We're out of luck this time,

Tears are rolling down my face,
Feeds the fear that's running through the stream,
And oh I don't wanna feel,
But I don't wanna feel this way,

We're out of luck this time,
We've fallen apart,
We're out of luck this time,

No more running away
No more running away
No more running away
No more running away
No more running away
No more running away
No more running away
No more running away
No more running away
No more running away

We've fallen apart

We're out of luck this time,
We've fallen apart,
We're out of luck this time

No More Running Away,
AIR TRAFFIC
Me and you
Got nothing better to do
Than to push each other around
In our own way
I'm gonna divine it
I'm gonna figure out the cause
Why we're both riding up and down
On my emotional flaws
Dig a deep shaft
Fill it with grass
Catch the alien ships
When they're gonna pass
Nothing is sacred
But everything's clean
Watch the silly humanoids
Always stuck in between
Everyone's down
Lazy and slow
Everyone's down
Everyobody wants to know
Fully sketched out
But down inside
Still down inside

Me And You,
NADA SURF

O gosto pela imperfeição

Por que publicar o que não presta? Porque o que presta também não presta. Além do mais, o que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.

— CLARICE LISPECTOR

Segura-te!

Sopra o vento
Segura-te borboleta!
Na pétala da flor.


- RODRIGO DE ALMEIDA SIQUEIRA

domingo, 29 de agosto de 2010

Blues

"Quando Ana me deixou - essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos - e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou - e essa não-continuação era a única espécie de não…"
- CAIO FERNANDO ABREU, in "Sem Ana, Blues"
"E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prémio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação. É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."

- CLARICE LISPECTOR

sábado, 28 de agosto de 2010

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

- CLARICE LISPECTOR

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Arma descartada: jogo social

“Tenho várias teorias novas sobre a futilidade como arma essencial para a sobrevivência nestes hard times, mas não sou hipócrita, não sei fazer “jogo social”. Até saberia, mas não me interessa, tenho preguiça.”

CAIO FERNANDO ABREU

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

True love

'So you do believe in…true love?' she whispered. I took a deep breath, 'think I have to', I said, blinking back tears. ‘Without it, we’re all going nowhere.

JULIET MARILLIER, in "Wildwood Dancing"

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Em poucas palavras...

“Começo a conhecer-me. Não existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou metade desse intervalo, porque também há vida … Sou isso, enfim … Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor. Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo. É um universo barato.”

FERNANDO PESSOA

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Não preciso entender demais

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.”

CLARICE LISPECTOR

Love is what it is!

[Him]
One look
You know that you've fallen
She knocks you over
You say this is it


[Her]
Perfect
Straight from a movie
He says all the right things
You know he's the one
Next time around
Try again

[Him]
Weeks pass
Still kind of perfect
My heart's removed now
I gave it to you


[Her]
Passion
You constantly move me
Further and further
Reaching my soul


[Both]
Next time around
Try again


[Him]
Tonight
Plans for a movie
You call me to cancel
Girls going dancing

[Her]
Sundays
Our romantic picnics
Turn into football
Boys will be boys


[Both]
Now months pass
Knowing you love me
I've taken you forever
Together for granted
Next time around
try again

[Him]
Home late
You won't even kiss me
The eyes of my angel
Accuse me I'm guilty

[Her]
Follow me
To my friends' house
Hide 'cause we're dying
Jealousy is cancer

[Both]
Next time around
Try again


[Him]
You never give me any space
or time to breathe

[Her]
Try again

[Him]
Sometimes I wish you'd leave alone
and get away from me

[Her]
Try again
I can't believe you'd say these things
If you're in love with me


[Him]
Try again

[Her]
I never thought you'd ever say
Those awful things to me

[Both]
Try again

[Him]
Oh no
The roses I gave you
Are suddenly fading
Along with our love


[Both]
Who cares
The credits are rolling
Love's just a movie
There's always an end


[Him]
Love is what it is
It just is

[Both]
Love is what it is
It just is

Try Again,
LÚCIA MONIZ e NUNO BETTENCOURT

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Medo do que está por vir

Às vezes, no silêncio da noite, fico acordada. Detenho-me, deitada, a ver vultos e sombras do que não conheço. As silhuetas que se constroem entre o preto e as luzes criam uma vida mais realista do que a minha, fazem-me inveja. A minha vida faz-me querer adormecer. Acordada fico com medo do que falta acontecer, dos circos que estão por montar, do tudo quanto falta inventar.

O inimigo não sou eu

Pergunto-me por quanto mais tempo permanecerei neste invólucro ambulante. Com verdadeiros olhos, descobririam uma altura que não vai para além da que atingem os pés. Tragam-me astúcia pura e em segundos desmanchar-me-ei em tudo quanto me falta contar. Em poucas palavras, é certo, porque no momento da condenação já está reduzido o que se tem a dizer.
Não sei como ou porquê encontro severas formas de me surpreender, achados raros que podiam ficar na escuridão. Não vos quero mal, mas cansada que estou da quantidade que mo oferecem, de bom grado o repartiria.
Nesta sombra de mim, voltei a encontrar o caminho de volta ao que pensei começar a negar, uma piedade pelo que não me satisfaz por inteiro. Coberta de uma cobardia, ou de cobardes, corro para longe do que devia ser, amedrontada pelas horas vazias que me ameaçam. Talvez elas me ganhem ou eu lhes cante "Vitória, vitória!" em altos brados que lhes poderia esfregar naquela expressão de quem se limita a sugar a força dos outros. Os próximos dias, esses farão o ditado desta pequena história. Seja ele qual for, já alguém me entrou pelo corpo e envenenou o que eu ainda tinha. Apoderou-se, pegou-me, atirou-me ao chão, deu-me murros até verificar que os olhos me saltavam das órbitas. O inimigo limpou a vida comigo, deu-lhe um brilho digno de varinha de condão, mas não soube chegar onde quis. A guerra continuou e eu que entretanto fui transformada numa espada tanto fui aguçada que certamente entrei a fundo no inimigo. Sim, eu dilacerei-o e a força foi tal que dificilmente dará à ferida a volta que quer. Não encontrará agrafos nem nenhum ponto que desfaça o que começou. Eu fui só a imagem mais viva desse corte sem corte, uma ferida aberta antes que a espada penetrasse a pele. Fui a ameaça mais aguçada antes de poder sequer fazer uso do meu poder. Não precisei de artilharia pesada ou de forças de expressão mal usadas. Não sou uma guerreira que usa e abusa. Não.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

“Tinha nas mãos o meio de inutilizar o efeito do equívoco; era mostrar-se indiferente…”

MACHADO DE ASSIS

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Palavras a menos no meio de palavras a mais

Há tantas coisas que nunca te disse - e dizias tu que eu falava de mais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão. Em vida, sussurrava: não te perdoo o que não soubeste saber de mim. Este noante revela-me a verdade invingada: não me perdoo o que não soube verter-te de mim.

INÊS PEDROSA, in "Fazes-me Falta"

Contemporaneidade do tempo

Neste lugar sem lugar, passado presente e futuro são contemporâneos. Desabam para o interior do seu próprio excesso de existência. Mas a mágoa persiste, resplandece na desordem.

INÊS PEDROSA
, in "Fazes-me Falta"

terça-feira, 17 de agosto de 2010

On repeat

We wanted so much more
We headed right into the sun
Chased the dragon right to his door
Now look how fast did we burn

We ran a while through the haze
In search of fast and different pace
We held those glasses high for so long
Now look how tired, tired and sad we've become

And then you're gone, I'm moving on
But those little things, they can find me
The curtain falls and there's no applause
And those little things follow behind me

And now we play the game
We face each other taking aim
Tearing down those walls one by one
Now look how fast they came down

And then you're gone, I'm moving on
But those little things, they can find me
The curtain falls and there's no applause
And those little things follow behind me

I pick up the phone, the ringing tone
Every little sound, it comes and finds me
Those TV reruns, couch, cigarette burns
Still, those little things come and grab me

Now, won't you try to find me?

And then you're gone, I'm moving on
But those little things, they can find me
The curtain falls and there's no applause
And those little things follow behind me

I pick up the phone, the ringing tone
Every little sound, it comes and finds me
No wishing hands and making plans
And still those little things come and grab me

Now won't you try to find me?

"And then, in the middle of the mayhem
You said something that sounded just like a whisper
'Don't be afraid', you said. 'Don't be afraid'"

Little Things II
,
DAVID FONSECA

sábado, 14 de agosto de 2010

Sou uma trapezista

Se fosse uma artista de circo seria uma trapezista!

Não seremos parecidas? Ocupo os meus dias com a procura de um equilíbrio que me permita manter em cima de uma linha que deixei de conhecer. O difícil é nos dias em que os pés não se acertam porque acredito em mim mesma quando penso em ti como o meu chão. Como me poderei manter no ar se o que quero é descer? Os perfecionitas fazem de tudo para não cair. Pois eu, não me importaria se caísse.
Como controlo os braços, o tronco e as pernas se sou o melhor exemplo vivo de uma fragmentação? Com que força hei-de erguer a cabeça se ma atrais para ti, em direcção ao chão?
Os trapezistas são magníficos e não quero com isto dizer que o seja. Tenho na ideia nunca ter visto ninguém ficar indiferente perante uma das suas actuações. Eles vivem no fim da linha com uma graciosidade que dificilmente encontraremos numa outra profissão. Mostram-nos movimentos delicados sobre um caminho que não foi feito para ser pisado. E mais intrigante do que isso é a facilidade do movimento que fazem transparecer, quando foram precisos anos de um rigoroso treino para atingir a perfeição.
Somos assim. Precisamos de passar pela parte mais árdua em situações que nos testam. Repetimos os momentos de dor e redobramos esforços até que a intensidade com que vivemos tais acontecimentos atinja um ponto tão alto que nos permita depois saborearmos outros momentos que deixámos de saber apreciar. A parte menos apetitosa de tudo isto resulta do facto de aprendermos a disfarçar todo o esforço que pomos em cada movimento nosso. E se nos deixarmos levar pelos momentos em que nos podemos recolher e aguentar o que já conhecemos? Se escondermos a dor da nossa actuação? Se aprendermos a mentir para deixarmos felizes quem observa o nosso espectáculo?
A graciosidade perderia todo o encanto nesse momento, não é verdade?

Unplayed Piano

Come and see me
Sing me to sleep
Come and free me
Hold me if i need to weep
Maybe it's not the season
Maybe it's not the year
Maybe there's no good reason
Why i'm locked up inside
Just cause they wanna hide me
The moon goes bright
The darker they make my night

Unplayed pianos
Are often by a window
In a room where nobody loved goes
She sits alone with her silent song
Somebody bring her home

Unplayed piano
Still holds a tune
Lock on the lid
In a stale, stale room
Maybe it's not that easy
Or maybe it's not that hard
Maybe they could release me
Let the people decide
I've got nothing to hide
I've done nothing wrong
So why have i been here so long?

Unplayed pianos
Are often by a window
In a room where nobody loved goes
She sits alone with her silent song
Somebody bring her home

Unplayed pianos
Are often by a window
In a room where nobody loved goes
She sits alone with her silent song
Somebody bring her home

Unplayed piano
Still holds a tune
Years pass by
In the changing of the moon


Unplayed Piano,
DAMIEN RICE & LISA HANNIGAN

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

I can't spell it out

Foi dos momentos que mais gostei do Sudoeste e... não preciso de explicar.


COLBIE CAILLAT - Realize

Take time to realize
That your warmth is
Crashing down on me
Take time to realize
That I am on your side
Well didn't I, didn't I tell you
But I can't spell it out for you
No it's never gonna be that simple
No I can't spell it out for you

If you just realize
What I just realized
That we'd be perfect for each other
And we'll never find another
Just realize
What I just realized
We'd never have to wonder
If we missed out on each other, now

Take time to realize
Oh oh, I'm on your side
Didn't I, didn't I tell you
Take time to realize
This all can pass you by
Didn't I tell you
But I can't spell it out for you
No, it's never gonna be that simple
No, I can't spell it out for you

If you just realize
What I just realized
That we'd be perfect for each other
And we'll never find another
Just realize
What I just realized
We'd never have to wonder
If we missed out on each other, but

It's not the same
No it's never the same
If you don't feel it too
If you meet me half way
If you would meet me half way
It could be the same for you

If you just realize
What I just realized
That we'd be perfect for each other
And we'll never find another
Just realize
What I just realized
We'd never have to wonder
If we missed out on each other

Just realize
What I just realized
That we'd be perfect for each other
And we'll never find another
Just realize
What I just realized
We'd never have to wonder
If we missed out on each other, now
Missed out on each other now
Missed out on each other now
Missed out on each other now owa, owa ohh
Realize
Realize

(nada)

Tenho saudades de escrever para mim e para vocês.

Estive ausente nos últimos dias e as palavras fazem-me tanta, mas tanta falta!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Apresento-vos o meu jardim

Quando temos um jardim somos cuidadosos, atentos às nossas flores. E quando temos um jardim somos nós que o fazemos crescer.
Este será um jardim que nasceu de uma ilusão atrelada a um mundo paralelo e nesse mundo, o projecto ficou por concretizar.
Talvez neste novo jardim eu consiga criar uma flor pelas minhas próprias mãos. Ou talvez não, a última secou e sendo que a praga foi a jardineira, poderemos nunca voltar a ter um jardim em flor. Mas vamos fingir que tenho, ou que não! Se a praga foi severa, então poderá haver laivos, muitos laivos, do jardim que quase foi. Algum dia se viu uma cicatriz numa flor? Por que se não, então no meu jardim nascerão as primeiras. Gosto da imperfeição.

Objectivamente...
Neste jardim vou plantar fotografias e brincar com palavras que eu vejo nelas. Fi-lo nos últimos dias aqui por brincadeira e agradou-me a ideia! O nome, para além do que já lavrei, foi inspirado na música Playground Love dos Air, bem como na ideia retirada de um diálogo do filme Cold Mountain, em que uma cerca é a primeira coisa de onde a personagem prevê conseguir obter resultados na vida. Já na minha vida e não na dela, os resultados sumiram-se e neste jardim de fotografias, talvez esteja a primeira coisa que eu tenha em mãos que pode produzir resultados: um sítio onde gostem de passear. Quanto ao amor, desse não sei nada!

Eu tenho um jardim!

Para além deste meu canto permanente das palavras, podem também passear pelo meu jardim:


Espero que gostem!
(amanhã explico-vos como nasceu)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Daqui a uns minutos...

... tenho um novo espaço (:
Daqui a pouco dou-vos um cheirinho!

Yesterday was a lie.

Ada: Yesterday I saw you walking back to me.

(from "Cold Mountain")

Sometimes I feel I'm a box.

I do love something!


WATERMELON!

How slow is too slow?

I take it slow.

...
I wanna be high, so high
I wanna be free to know
The things I do are right
...

Easy,
THE COMMODORES

What do I want?


Momento: "what do I want?".

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O frio é meu. II


Ada: All this while I've been packing ice around my heart. How do I make it melt?

(from "Cold Mountain")

O frio é meu.


Porque é que em pleno Verão eu sinto que vivo um rigoroso Inverno?

Afinal...

É verdade, tem algum mal.

Poetry as a shelter

Poems, even when narrative, do not resemble stories. All stories are about battles, of one kind or another, which end in victory and defeat. Everything moves towards the end, when the outcome will be known.

Poems, regardless of any outcome, cross the battlefields, tending the wounded, listening to the wild monologues of the triumphant or the fearful. They bring a kind of peace. Not by anaesthesia or easy reassurance, but by recognition and the promise that what has been experienced cannot disappear as if it had never been. Yet the promise is not of a monument. (Who, still on a battlefield, wants monuments?) The promise is that language has acknowldeged, has given shelter, to the experience which demanded, which cried out.


JOHN BERGER, in "and our faces, my heart, brief as photos"

SW pela metade.

Vou perder M.I.A., nem acredito. E tudo pela porcaria de um exame de código.


M.I.A. - Paper Planes

"Desfasamento"

"(...) Às vezes, muito lentamente, vamos interiorizando que o normal evoluir das pessoas e dos acontecimentos determina que tenhamos percebido uma coisa quando já não era necessária ou que valorizemos o que já estamos a perder. De muitas formas, acedemos, assim, à noção de desfasamento.

O desfasamento que existe entre nós e nós, nós e os outros, nós e o mundo que nos rodeia e, também, entre o mundo que aprendemos que devia ser e o mundo tal qual é.

Para qualquer lado que olhemos, parece que a realidade se desdobra, que a dupla direccionalidade é um fenómeno genérico, que um imenso estrabismo divergente aflige o mundo, as pessoas e os acontecimentos.

De algum modo sabemos que não podem existir situações acabadinhas e arrumadas, leis que se apliquem justamente a toda a gente, princípios que não conheçam excepção. Ainda que não apreciemos, sabemos que a distância entre o que somos capazes de imaginar e o que podemos executar, o que somos capazes de pensar e o que temos recursos para pôr em marcha, é sempre demasiada. Sendo dado que não temos acesso a toda a realidade e que precisamos de mapas mentais que a tipifiquem, simplifiquem e nos ajudem nos trajectos que temos de fazer, precisamos mesmo de direcções seguras e bem marcadas. Aguentamos, de facto, uma certa quantidade de desfasamento. Mas é preciso que alguém saiba a dosagem certa antes que a desfragmentação aconteça. Essa, não tem retorno, sentido ou tino."

ISABEL LEAL, in Crónica "Desfasamento"