sábado, 14 de agosto de 2010

Sou uma trapezista

Se fosse uma artista de circo seria uma trapezista!

Não seremos parecidas? Ocupo os meus dias com a procura de um equilíbrio que me permita manter em cima de uma linha que deixei de conhecer. O difícil é nos dias em que os pés não se acertam porque acredito em mim mesma quando penso em ti como o meu chão. Como me poderei manter no ar se o que quero é descer? Os perfecionitas fazem de tudo para não cair. Pois eu, não me importaria se caísse.
Como controlo os braços, o tronco e as pernas se sou o melhor exemplo vivo de uma fragmentação? Com que força hei-de erguer a cabeça se ma atrais para ti, em direcção ao chão?
Os trapezistas são magníficos e não quero com isto dizer que o seja. Tenho na ideia nunca ter visto ninguém ficar indiferente perante uma das suas actuações. Eles vivem no fim da linha com uma graciosidade que dificilmente encontraremos numa outra profissão. Mostram-nos movimentos delicados sobre um caminho que não foi feito para ser pisado. E mais intrigante do que isso é a facilidade do movimento que fazem transparecer, quando foram precisos anos de um rigoroso treino para atingir a perfeição.
Somos assim. Precisamos de passar pela parte mais árdua em situações que nos testam. Repetimos os momentos de dor e redobramos esforços até que a intensidade com que vivemos tais acontecimentos atinja um ponto tão alto que nos permita depois saborearmos outros momentos que deixámos de saber apreciar. A parte menos apetitosa de tudo isto resulta do facto de aprendermos a disfarçar todo o esforço que pomos em cada movimento nosso. E se nos deixarmos levar pelos momentos em que nos podemos recolher e aguentar o que já conhecemos? Se escondermos a dor da nossa actuação? Se aprendermos a mentir para deixarmos felizes quem observa o nosso espectáculo?
A graciosidade perderia todo o encanto nesse momento, não é verdade?

1 comentário:

Anónimo disse...

Tocou-me <3