segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O inimigo não sou eu

Pergunto-me por quanto mais tempo permanecerei neste invólucro ambulante. Com verdadeiros olhos, descobririam uma altura que não vai para além da que atingem os pés. Tragam-me astúcia pura e em segundos desmanchar-me-ei em tudo quanto me falta contar. Em poucas palavras, é certo, porque no momento da condenação já está reduzido o que se tem a dizer.
Não sei como ou porquê encontro severas formas de me surpreender, achados raros que podiam ficar na escuridão. Não vos quero mal, mas cansada que estou da quantidade que mo oferecem, de bom grado o repartiria.
Nesta sombra de mim, voltei a encontrar o caminho de volta ao que pensei começar a negar, uma piedade pelo que não me satisfaz por inteiro. Coberta de uma cobardia, ou de cobardes, corro para longe do que devia ser, amedrontada pelas horas vazias que me ameaçam. Talvez elas me ganhem ou eu lhes cante "Vitória, vitória!" em altos brados que lhes poderia esfregar naquela expressão de quem se limita a sugar a força dos outros. Os próximos dias, esses farão o ditado desta pequena história. Seja ele qual for, já alguém me entrou pelo corpo e envenenou o que eu ainda tinha. Apoderou-se, pegou-me, atirou-me ao chão, deu-me murros até verificar que os olhos me saltavam das órbitas. O inimigo limpou a vida comigo, deu-lhe um brilho digno de varinha de condão, mas não soube chegar onde quis. A guerra continuou e eu que entretanto fui transformada numa espada tanto fui aguçada que certamente entrei a fundo no inimigo. Sim, eu dilacerei-o e a força foi tal que dificilmente dará à ferida a volta que quer. Não encontrará agrafos nem nenhum ponto que desfaça o que começou. Eu fui só a imagem mais viva desse corte sem corte, uma ferida aberta antes que a espada penetrasse a pele. Fui a ameaça mais aguçada antes de poder sequer fazer uso do meu poder. Não precisei de artilharia pesada ou de forças de expressão mal usadas. Não sou uma guerreira que usa e abusa. Não.

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