quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O amanher em Lisboa...

Incrível como a esta hora da manhã elas já rasgam o céu com tanta vontade. Irrompem-no sem medo, não tendo a nossa doença maldosa de pensar no que vem a seguir. Asas abertas, seguras de quem tem o céu a seus pés. O voo não é picado nem mole, consegue ter a velocidade suficiente para que elas se desloquem graciosamente, ao mesmo tempo que ostentam aquele ar imponente de quem é dona de todo o espaço que de azul celeste se vai vestindo.

Chegaram mais cedo do que eu, desta vez atrasada no comboio, mas mais vezes atrasada na vida, embriagada no meu balanço errante.

Entretanto o céu está metade bege, esta cor nas zonas vizinhas do sol. Tem graça, nunca o tinha visto ganhar este tom. É do melhor que esta cidade tem...
O sol está a erguer-se num pranto de cores infinitas, todas elas aparecendo em festa para lhe darem os bons dias. Mas a que ele mais gosta é o azul; é de questionar isto de se ter sempre uma preferência. Estou de frente para esse espectáculo enquanto a brisa vai namorando o início do dia e estou com vontade de desconstruir esta realidade humana que se orgulharam de edificar. Seria tudo tão mais bonito se não existisse.

As gaivotas estão a fugir, talvez tenham a sorte, ou o azar, de ter encontrado um lugar (que lhes parece) melhor. Mas ficaram duas ali, perto, debruçadas num voo raso. Outras como elas perdem-se por aí, preferem ganhar tempo apreciando o dia a crescer, as folhas das árvores a dançar, as estrelas a perderem diurnamente o brilho porque está claro que nem elas podem brilhar eternamente - fazem intervalos, mas diferentes dos meus porque os têm programados. Se os meus assim fossem ia pedir uma preparação para descobrir o caminho mais majestoso de mudar de estado de espírito. Pena não o serem...