domingo, 28 de fevereiro de 2010

Conta o acaso

A J saiu mais cedo, quis fazer-se ao tempo. Pegou em todas as suas coisas e segurou-as na mão com toda a força. Subiu a estrada, procurou a pressa para fazer o que esqueceu e, depois, voltou a descê-la. Sentou-se à espera do que a vinha buscar, escondida em desejos que não cresciam aos mais prudentes. Nela eram os mais férteis. Sempre.
Após alguns minutos chegou à praça onde teria que sair. E lá ficou ela à espera de algo que se movimentasse mais rapidamente. A espera termina e dois abrandamentos de velocidade mais tarde - sim, penso terem sido dois! - ele entrou. A J pensou logo que ele era um F. Ou um M, em último caso.
Ficaram de frente um para o outro, uns ínfimos metros afastados, ele à direita dela. Acabaram por sair no fim da linha, e enquanto ela demorava para perder tempo, ele avançava. Ela passou-lhe a perna. E ele ficou para trás.
O engraçado foi vê-lo, no limite da desvantagem, a sentar-se precisamente no lugar vazio que estava na frente dela. Ambos olhavam o chão, para evitar encararem o acaso. Desta vez durou 3 minutos porque voltaram a sair.
A J foi na frente e quando precisou de entrar escolheu propositadamente um local que não estivesse completamente preenchido, e com outras hipóteses de ser completo ao lado também. Ele sentou-se desse outro lado. Os olhares iam de uma janela para a outra e não só. Que coincidência! Quando chegaram ao fim, caminharam para sentidos opostos. Ele enganou-se e ela teve um problema pelo caminho (resolveu-se, aliás como tudo).
Entretanto separados, a J não achava provável voltarem a ver-se, ainda mais naquele dia.
No momento em que chega lá em cima, cansada, olha para a sua frente e estava também ele a vir, a chegar ao mesmo tempo. Nenhum dos dois tinha a ida garantida mas ficaram lado a lado e ela ouviu-o conseguir e ele ouviu-a a ela.
Ele precisou de ir. E foi assim que se separaram, por culpa de uns meros 30 minutos.

2 comentários:

joana Andrade disse...

Sempre que estou na net,dou por mim a passar uma vista de olhos no teu blog.Não por curiosidade alheia, porque tu sabes que só me interesso pelas malas e os seus objectos clandestinos, sempre aliciantes para a minha pequena mente.Continuando,visito o teu blog com frequência, porque tens uma escrita tão fluída,genuína que felizmente não arranha o fácil e o obvio, que me sinto tentada a vir aqui mais vezes.

Joana Figueiredo Gonçalves disse...

Oh Joana muito obrigada (:
Sabes que mais? Eu só escrevo o que sinto e, quando a verdade é tão óbvia que dói, finjo histórias sobre o meu sentir. Infelizmente, ou felizmente, o que eu sinto é uma algazarra de correntes em mar aberto. Sempre que essas correntes se exaltam, a escrita desliza sobre o papel, tão «fluida» quanto «genuína» como a adjectivaste.

Se o que eu sinto fosse fácil, se eu fosse fácil, então não estaria aqui!

Muito obrigada, podes parder aqui o tempo que quiseres, sempre que quiseres!