sábado, 10 de julho de 2010

Embala-me em conforto. Encosta-me a ti. Cala-te, cala-me e agarra-me com força enquanto eu liberto todo o ar irrespirável que se prendeu nesta mansarda de corpo. Hoje estou um veneno, maligna para mim própria.
Entorpeci. Estou pequenina de tamanho, de vontade e de tudo. Agarra-me com força, cheio de força! Vou-te cravar as unhas, ferir a pele e marcar-te. Desculpa. Segura-me agora, marca-me também se não te controlares. Deixa-me explodir nos teus braços se acreditas mesmo que o chão abaixo de nós nunca vai ruir.
Por favor, não me faças olhar-te nos olhos se cerrar os maxilares e o queixo me tremer. Ou obriga-me, secalhar é o que me faz falta. Não sei. Não sei! N-ã-o s-e-i. NÃO SEI. Não sei não sei não sei não sei. Encosta-me a ti, a cabeça ao peito como se o nosso lindo barco se afundasse e precisássemos de ir ao fundo juntos. Como se morrêssemos por nos sentir. Isto é sobre mim, mas agarra-te(-me). Pega-me nem que precises de me transformar numa marioneta. Se for amor… O braço p’rá direita, esquerda, não! Roda a corda, traz o outro braço e cuidado que a perna está a torcer. Traz-me mesmo que esperneie, que não reaja, que me acabe. Vá, pela mão. Mais um toque e as minhas garras vão-te dominar, vou ferrar-tas desesperadamente, esbofetear-te, pontapear-te, desfazer-te… sei lá.
Não quero dizer uma palavra. Não abro a boca nem esboço a porcaria de um sorriso. Nada. Prefiro encontrar-me com a parede e deslizar poeticamente, ferozmente, seja que de maneira for. Deslizar é com a tinta solta que cai e com os pedaços de pedras que já foram. Deixa-me cair agora, sentada, as pernas estendidas, o ar de um morto, «eu» a fugir-me. Fujo-me a sete pés. Saio pelo líquido que escorre das dobras, evaporo-me pelos poros, corro nos olhos. Olha para isto! Que rebelde, mesquinho, oh «eu» provocador e provocado.
Onde param as conquistas? As metas? Só daquelas em que o tronco toca a fita e parece ser catapultado para o início da corrida.
Ainda estás de pé? Não me levantaste? Não me levantas? O que te disse? Agarra-me. Eu disse uma palavra e repeti-a: a-g-a-r-r-a-m-e.
Chega. Vou desfigurar o chão, rachá-lo em fendas nem que me custe dias. Porque não me ouviste? Foi simplesmente: agarra-me.
Assustei-te? E eu que tenho vozes e almas e pessoas e demónios na cabeça? Eu levo as mãos à cabeça! Eu salto, agito a saia, penduro-me ao cabelo. Esfrego os olhos, espalmo a cara e… perdi o corpo?
Pega-me ao colo. Fica comigo. Resolve-me.

2 comentários:

Marie disse...

wow ! Amei! Está perfeito, perfeito!
Um dos melhores textos aqui expostos! *.*

Joana Figueiredo Gonçalves disse...

Eu estava... nem sei.
Muito obrigada (: