Palavra a palavra começa a linha a ganhar forma. Começo pelos contornos, mas posso ir logo directa ao essencial, a cortar caminho porque a inquietação é longa. Quando assim é estou mais ausente de mim, menos cheia e mais vazia.
O gosto por criar nunca murcha, mas a impulsividade que me salta do ser para o tacto provoca-me dissabores com as letras quando tende a ter uma persistência maior do que a da tinta ou do carvão.
Um dia vou aprender o caminho da espontaneidade literária seja lá ele de que cor for! Vou começar por pegar numa mochila e enchê-la com uma pilha de ideias que seja suficiente para me alimentar a fome durante a vida! Irei correr o mundo da escrita sem me preocupar com contra-ordenações absurdas pela falta do cumprimento de regras de gramática.
Já fiz o plano da viagem: vou visitar memórias, conhecer vidas, perguntar por sinónimos quando o significado não me agrada, subir aos tectos trabalhados por metáforas, mergulhar nas profundezas da dor e passear nos trilhos da felicidade. Há anos que sonho conseguir que a poesia deslize sobre os meus dedos com equilíbrio e desejo ainda conhecer tantos vocábulos quantos forem possíveis para melhor materializar o sentimento em arte.
A distância será medida em ideias e é por esse motivo que estou certa que a viagem parecerá interminável! E esse é o lado empolgante, saber que demorarei a eternidade a concluí-la, o que me deixa tempo suficiente para explorar todos os confins da escrita.
Se me falta a força no pulso é que estou tramada! Como é que trilharia tais caminhos sem me fazer acompanhar por ela? A viagem não teria sabor! Comparo-a, em tal insuficiência, a tocar e não sentir! Nada similar ao momento em que o paladar descobre um alimento insonso, nem lá perto, pois esse consegue-se saborear e desagrada! Seria algo como morrer à sede, ser dizimada por não ter em mim algo vital, ainda que inacreditavelmente insípido e inodoro.
Preciso de continuar a estudar mapas que me conduzam os passos para os parágrafos certos. Nestas coisas não se pode facilitar, ou ainda se mete a criatividade pelo caminho errado. E depois atrasa-se e chega quando já não tenho papel para a desenhar!
Se quiserem vir comigo apareçam por aqui, metemo-nos a caminho no escuro da noite, a mesma que me tem trazido até vocês durante a maior parte de todo este tempo. Qualquer dia é bom para começar a viagem desde que deixem que as palavras vos penetrem na pele com a mesma força com que os meus sentimentos caem nelas.
1 comentário:
Parabéns. A ti e ao blog!
Com um ano, já está um verdadeiro homenzinho. Põe-se de pé e já sabe andar: não anda rápido; prefere andar devagar, desfrutar do que lhe vai aparecendo pela frente e tomando uma lúcida e subtil apreciação daquilo que vai vendo, aprendendo e, ao mesmo tempo, ensinando quem o lê :)
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