Ontem estive durante aquelas quatro horas empenhada num workshop. Depois escrevi imenso, não conseguia parar…
“Parece que acabei de acordar de um longo pesadelo e me levantei a correr para lavar a cara e eliminar o medo que ele me deixou a correr no sangue. Se quisessem quantificar biologicamente o que me segue nas veias veriam: uns 20% de vestígios de medo do desconhecido que se há-de apresentar, 51% de um querer mudar, 11% de insegurança em que se tenta equilibrar a minha decisão e 18% de entusiasmo que não me quer deixar quebrar. Tudo isto se move num fluido circulante semelhante ao plasma, mas que para mim tem o nome de ânimo.
Propus-me a desconstruir o meu eu e a adoptar uma visão crítica das coisas. Foi pelo que ela disse, qualquer coisa como: precisamos de nos consciencializar do nosso corpo, de nós, de nos sentirmos activos em cena, fazermos parte da acção para entendermos quando algo está mal no palco. Os pormenores são importantes, a forma como nos damos a entender não pode ser descurada. Vamos deixar-nos tomar o papel de figurantes? Vamos actuar, percepcionar e fazer uma crítica! Imediata! Se uma coisa está mal vamos mudá-la, tentar uma abordagem geral e, noutros passos, ir desconstruindo o acontecimento para tirar de cena o supérfluo e ir reduzindo o momento ao que é importante. Se não está bem altera-se na hora ou se deixa, deixa, deixa até que a mudança desliza estupidamente para o amanhã. Pode é compensar-se a perda de agitação, movimento e presença com algo mais que não tenhamos aproveitado. As coisas completam-se, mais não seja com recurso à imaginação.
Começamos pelo que não mente, trabalhem lá a vossa expressão corporal, libertem a tensão do que vos prende, sintam os pontos de contacto que há entre vocês e o chão. Ouçam quando o ser pede atenção à vontade, não há nada pior do que querer mais do que a realidade suporta. É física e mentalmente intolerável.
Descentrei-me da inquietação que faço questão de não abandonar. E o medo? Porque não ensinar-lhe o caminho para fora de mim? I mean, as razões que eu tenho não me deviam pertencer, hospedaram-se a mim porque tenho uma fraqueza associada à incapacidade de bloquear os receptores de desejos conjugados no passado.
Foram exemplificadas imensas situações, uma das quais aquela típica em que ansiamos porque nos entendam sem sermos minimamente objectivos. Optamos por gesticular, rondar o óbvio em curvas que se sobrepõem. Há individualidades mais efusivas, outras que se enterram de cabeça na confusão do que já é complexo. Uns fingem, transformam em opacidade a transparência. Uns fogem, escondem a cara entre as mãos para ocultar a expressão quando o miocárdio dá de si. São conhecidos os que enganam, mas se queres usar palavras, que não seja para mentir. Ela acentuou a ideia de que não devemos deixar de dizer o que queremos, o que deixou de funcionar comigo. Só que... Para quê exigir aos outros que tenham sempre tempo para adivinhar? Não temos todos boca para pronunciar um som a que queremos que atribuam significado? Não interessa se o advérbio “ainda” está a ser usado fora do tempo. Que culpa tem o homem que os segundos não tenham quebras quando se fala em produção de movimento? Impuseram-se sempre e têm a vantagem de conseguir manter uma velocidade constante, sem picos máximos ou mínimos que o fragmentem em fases.
Eu gostava de ter só uma fase. Não tenho interesse em manter-me longe da mudança, quero o proveito de estar completa com a estabilidade.
A essa, à estabilidade, convidei-a a encontrar-se comigo vezes de mais para quem quer manter-se em jogo, a dominar o jogo. Estou tentada a dizer-lhe para aparecer se quiser. Já conhece o chão, sentiu a textura do espaço e envolveu-se até não aguentar a densidade que sobreexplora o conhecido. Aproveita-se-lhe das fraquezas, enganada na rota do que é dar em sentir.
Há limites para tudo. Até para o conforto de reviver o que nos é querido.
Faço um apelo à honestidade, para que se separe da provocação e me apresente uma abordagem renovada da sua pessoa. Limpa, objectiva, desprovida do desnecessário. Sentimental, a descobrir a verdade e a despir-se do que é racional.
Há alguma linha que tenha deixado a tracejado? Pelo menos eu?"
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