Hoje celebro mais um ano de vida, já lá vão 19.
A prima Beatriz faz 9 aninhos!
O avô esteve connosco mais um dia.
O avô piorou, parece que está doente outra vez. Reparei logo quando cheguei e me brindou com as palavras que percebi carinhosas mas que eram hoje roucas, abafadas pela velhice e pela sua condição de saúde menos boa.
Pela tarde piorou. Conseguia ouvi-lo respirar mesmo por entre o som do Caetano a tomar posse da bola de ténis, da Lorca e do Garcia a correr ao seu ritmo atrás do movimento da rua - três cães dos vários da família - do barulho dos pacotes de gomas a abrir, do riso das crianças, os primos mais novos que nunca páram. O avô estava a dormir, quase tranquilo, com o sol a aquecer-lhe as pernas. Doeu-me ouvi-lo.
Por vezes sobressaltava-se, ficava aflito dentro do seu próprio corpo e eu levantava-me do chão, não sozinha na maioria das vezes, e ia-lhe para o lado. São já muitos os anos que passam por ele mas ainda está aqui, quase inteiro. «Quase», uma palavra que vai alargando 0 seu campo de actuação e aumenta o seu peso na vida do avô. Ajudei-o, apertei-lhe o casaco, medi-lhe a temperatura, fui buscar-lhe a segunda caneca de chá, dissolvi-lhe o concentrado de químicos na água, olhei para ele várias vezes e encolhi-me no medo de estar cada vez mais perto a possibilidade de perder o avô porque já não está tão bom como antes.
A idade pesa, é visível ao nível da perda contínua de capacidades maiores ou menores e da diminuição da destreza corporal.
Não gostei da cara do avô, nem da má tarde que ele teve.
Ainda é cedo para perder os avós. Nem sei como será essa dor, mas também nem me quero atrever a imaginar.
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