sexta-feira, 18 de junho de 2010

«Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de que...m morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.»

José Saramago

3 comentários:

Pedro disse...

não tenho a certeza (e não consegui confirmar no GAVE :\), mas acho que esse excerto apareceu no meu exame de Língua Portuguesa do 9º ano

Sofia disse...

Grande SARAMAGO!

Anónimo disse...

tão giro :)

(saudades)