terça-feira, 30 de novembro de 2010

Patrícia Tadeia, entrevista a Manuel Correia em 60 segundos

Manuel Correia, presidente do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD)

Como tem visto o trabalho da Catarina como Embaixadora de Boa Vontade?
A qualidade do seu trabalho e o apoio à volta da saúde materno-infantil e bem-estar das parturientes é contagiante. Aliás, sem o trabalho dela, não estaria a falar consigo. É a oportunidade de recebermos a atenção dos media por uma coisa muito boa, em vez de, como quase sempre, pelas menos boas.

Portugal tem cumprido o seu compromisso no alcance dos ODM?
Segundo a OCDE, o nosso esforço qualitativo é muito positivo, já o quantitativo, tem nota quase negativa. A crise financeira veio afectar esta situação.

O que é que cada pessoa pode fazer para ajudar?
Os portugueses são muito de impulsos, capazes de tirar a camisola para dar ao próximo. São mais de instintos, não de fazer algo ordenado. Há muitos esforços, muito bem intencionados: juntar livros, material escolar, medicação. Só que por não ser um processo ordenado, perdem-se. O que aconselho é: quem quiser ajudar, contacte o IPAD, e faremos com que a ajuda chegue a quem realmente precisa.


- PATRÍCIA TADEIA, "60 segundos", in Jornal Metro 25/11/2010

Patrícia Tadeia, "Objectivo: chegar a um mundo melhor"

"Em Setembro de 2000, chefes de Estado e de Governo de 189 países, incluindo Portugal, reuniram-se nas Nações Unidas. Ali assinaram a Declaração do Milénio, comprometendo-se a lutar contra a pobreza e a fome, a mortalidade materno-infantil, a desigualdade de género, a degradação ambiental e o vírus da sida.
Sentados à mesma mesa, assumiram ainda o compromisso de melhorar o acesso à educação, a cuidados de saúde sexual, reprodutiva e materno-infantil e a água potável. Para avaliar o cumprimento daquele compromisso, estabeleceram- se oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), a alcançar até 2015 (ver caixa). Portugal está envolvido no cumprimento destas metas. Enquanto país mais pequeno, luta com as dificuldades económicas para investir nas ajudas. Ainda assim, serve de exemplo em matérias como a diminuição da mortalidade materno materno-infantil no próprio País. Pelo esforço que dedica, pelo voluntariado, pela capacidade de ajudar o próximo e sobretudo também pelo conhecimento e experiência técnico-científica e o domínio da língua comum. Diz-se que somos um país solidário. Valemos pela vontade, e tal como a fé, diz-se que move montanhas. Acreditamos que sim."

- PATRÍCIA TADEIA, "Objectivo: chegar a um mundo melhor", in Jornal Metro 25/11/2010

domingo, 28 de novembro de 2010

Que mais poderia querer?

Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,
O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta.
Já que o não sou por tempo,
Seja eu jovem por erro.
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.
Que mais quero?

— FERNANDO PESSOA

sábado, 27 de novembro de 2010

Catarina Furtado, "Violência Sobre As Mulheres"

Devo confessar que andava curiosíssima para ler esta edição do Jornal Metro e ontem, quando passava os olhos por estas e outras palavras que nele estão manchadas de dor e sede de mudança, doeu-me a consciência. Há tanto por fazer, tanto onde se pode ajudar, tantas mulheres e crianças à espera que lhes digam que sim, que têm o direito de falar, de escolher, de denunciar. Por isso mesmo, comprometi-me a colocar aqui todos os textos que foram publicados naquela edição acerca do tema, em jeito de alertar os que conseguir para o problema. Este, o primeiro, é escrito por uma mulher cujo trabalho é verdadeiramente notório. Falo de Catarina Furtado, a Embaixadora De Boa Vontade Do Fundo Das Nações Unidas Para A População. São as palavras dela as que dão o mote para o que se seguirá nos próximos dias. Espero profundamente que não se sintam indiferentes porque esta realidade é da responsabilidade de todos nós.

"Hoje, como ontem e como amanhã, falo em nome de vidas que não passam de números inscritos em relatórios e estatísticas. Sou hoje, como ontem e, infelizmente amanhã, a cara sem disfarce e a voz não distorcida de muitos testemunhos inaceitavelmente indignos. Só que hoje, Dia Internacional para o Fim da Violência sobre as Mulheres, a esses testemunhos é concebido um espaço privilegiado nas primeiras páginas dos jornais. Sabemos que a violência e a discriminação exercidas sobre mulheres de todas as idades, de diferentes países, religiões e condições económicas, continuam a ser crimes silenciados e tolerados ao ponto de protelarem e até travarem decisões legislativas, programas específicos de prevenção, de apoio às vítimas e dirigidos aos agressores. São adiadas, de forma incompreensível, campanhas de denúncia, projectos de promoção da cidadania, planos nacionais e compromissos mundiais. Só cumprindo o que tem sido prometido, é possível alcançar medidas de protecção social eficazes, igualdade de género, antidiscriminação e não violência. A exploração e o abuso sexual, a violência doméstica, a mutilação genital feminina, o tráfico de seres humanos e os casamentos forçados são talvez as formas mais comuns e identificadas de violência sobre as mulheres.Mas isso não quer dizer que estejam, como deveriam, na ordem do dia das preocupações de todos nós. E se estas, que são as mais reconhecidas, não têm lugar garantido na nossa atenção diária, muito menos o terão as múltiplas formas disfarçadas de discriminação de género: a disparidade no acesso à escola entre rapazes e raparigas, as dificuldades na manutenção das meninas no sistema de ensino, a ausência de programas e cuidados de saúde sexual e reprodutiva sustentáveis, previsíveis e financiados, os entraves económicos para abastecer os serviços de saúde de medicamentos e equipamentos essenciais à saúde materna e infantil; o escasso apoio a organizações não governamentais de mulheres, as taxas elevadas de gravidez adolescente e a feminização do VIH/Sida. Por isso, e porque tenho a oportunidade de constatar no terreno a prática desta injusta realidade, o que penso ser absolutamente determinante para formar uma opinião, tomo o papel de Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População como uma prioridade na minha vida. O desafio para assumir a condição de Directora por um Dia do jornal Metro, quero aproveitá-lo como mais uma oportunidade para dar voz a todas as mulheres a quem as nódoas negras tendem, de forma dolorosa, a atingir a dignidade. Quem nos lê no dia de hoje tem também o ensejo de se envolver, agindo e exercendo a sua responsabilidade cívica, num tempo que passa bem mais rápido e mais distraído do que desejaríamos, mas ainda assim, a um ritmo que podemos, se quisermos, acompanhar. O nosso empenho, que é nossa obrigação, irá a tempo de salvar muitas meninas, raparigas e mulheres. Seria bom que este editorial se transformasse numa conversa. Gostaria de vos dar a conhecer tantas e tantas mulheres portuguesas, guineenses, moçambicanas, cabo-verdianas, são-tomenses, timorenses. Elas justificam todos os editoriais e que são a verdadeira razão para que estas palavras não sejam entendidas como um discurso de circunstância ou de oportunidade com carácter político. Quando ouço, vejo e toco estas jovens emulheres, o coração transforma-se em razão e as obras e projectos que colocam em primeiro lugar os Direitos Humanos, a saúde materna e infantil e o planeamento familiar, são para mim e para todos os técnicos que trabalham na área da cooperação, a bandeira a adoptar. E quando isso acontece, muitos têm sido os resultados obtidos. Já se sabe como evitar, e tantas vezes travar, sofrimentos baseados no género, não faz por isso sentido que as melhores práticas não sejam levadas a cada canto do mundo. Não é possível esperar um futuro mais saudável e sustentável se não se investir namulher, na sua voz, no seu trabalho, na sua capacidade de andar com o mundo às costas. A prevenção tem custos mas que são, afinal, o verdadeiro investimento na vida humana e no futuro de todos os países. Ninguém pode ser considerado dispensável. Em Moçambique, a Gilda, de 17 anos, confessou-me, após ter entrado para um programa de jovens voluntários cujo objectivo é a sensibilização para as questões do HIV/Sida, “Eu não sabia que podia falar, ter uma opinião, manifestá-la e lutar por ela. Pensava que eram só os rapazes. Agora sinto-me mais segura.” Em São Tomé, a Nela, de 20 anos, guardou para si, durante um tempo insustentável, a noite emque foi violada por um polícia e que, por ser rapariga e ter engravidado, foi expulsa de casa pelos próprios pais. Em Cabo Verde, a Janine, de 30 anos, contou-me que já não tinha sequer forças para acreditar que um dia poderia viver sem que o marido, alcoólico, a atirasse contra a parede. Na Guiné, a Mariana, de 17 anos, queria tanto estudar para ser professora mas o casamento forçado, com um homem de 60 anos e as três gravidezes (apenas um filho vivo), já lhe roubaram o seu sonho. “Para sempre”, disse-me ela. Em Portugal, a Amália, de 30 anos, esconde-se numa casa de abrigo, com a filha de quatro debaixo da saia. Disfarça o coração acelerado e esconde um sorriso sem dentes que a impede de arranjar trabalho. Na cara, a violência doméstica torna pública a sua vida íntima. Podia continuar com muitas mais histórias que não quero nunca que fiquem só para mim e para as pessoas da Associação para o Planeamento da Família e do UNFPA que me vão transmitindo tantos conhecimentos. Mas, por agora, deixo à vossa atenção as notícias que se seguem, fruto do trabalho de uma pequena grande equipa do Metro que ao fazer-me este desafio, aceitou também o meu. E com toda a garra de que as lutas pelas grandes causas necessitam. Obrigada pela vossa convicção e pelo precioso contributo enquanto meio de comunicação social. E que amanhã seja também Dia Internacional para o Fim da violência sobre as Mulheres. Assim o queiram."

- CATARINA FURTADO, Crónica "Violência Sobre As Mulheres", Jornal Metro 25/11/2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Friday I'm in looove



...
I don't care if monday's blue
Tuesday's gray and wednesday too
Thursday I don't care about you
It's friday I'm in love
...

Friday I'm In Love
,
THE CURE

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Unexpected? I'm in!

"We all think we’re going to be great and we feel a little bit robbed when our expectations aren’t met. But sometimes ours expectations sell us short. Sometimes the expected simply pales in comparison to the unexpected. You got to wonder why we cling to our expectations, because the expected is just what keep us steady. Standing. Still, the expected’s just the beginning, the unexpected is what changes our lives."

(quote from Grey's Anatomy)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Descoberta Científica

Olha, afinal não existem ímanes! Fiquei sensivelmente tocada, afinal contribuímos para o avanço da ciência!
Meu amor, alegra-te pois somos conhecimento!

«Contidamente, continuamos.»

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca …"

- CAIO FERNANDO ABREU

Se não me perco, encontro-me!

Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia – a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la –, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me mesmo seja de novo a mentira que vivo.

— CLARICE LISPECTOR


GREG LASWELL - What A Day



What a day to be alive
What a day to realize I'm not dead
What a day to save a dime
What a day to die trying

What a way to say good bye
What a wonderful life now
What a way to use your mind
What a day to say good night

"Bring on the evening hours," I cry
"Bring on the evidence of my life"
(My life)

What a day to give a damn
What a day for "Gone with the Wind"
And what a day to start again
What a day to give up dry gin

"Bring on the evening hours," I cry
"Bring on the evidence of my life"
"Bring on the evening hours," I cry
"Bring on the evidence of my life"

Let it go
Let it go from here, I don't know
Let it go
Let it go from here, I don't know
Don't know

What a day to visit Seattle
What a day for San Francisco
What a day, holy Toldeo
What a day to get in the air and go
What a day to give up smoking
What a day to absorb
What a day to welcome a baby
And to begin breathing
(To begin breathing)

sábado, 13 de novembro de 2010

No stars in the sky, the night seems so dark around you.
You won't say a word, and wonder why no one's found you,
Waiting for love, praying for love again........
Love's a heavy weight, give it to me don't hesitate.
Love's a heavy thing, too heavy for one heart to bring me your love.
Give me your love again, it's not your fault.
One heart can never win it takes
Two hearts, two hearts just to hold love.
Two hearts, two hearts just to hold your love.
Your love.
And if your heart should ache,
Remember me.
And if your heart should break.
Two hearts, two hearts they can mend it.
Heartache, heartaches can be ended by love, by love.
Love's a heavy weight, give to me don't hesitate.
Love's a heavy thing, too heavy for one heart to bring me your love.
Give me your love again, It's not too late.
One heart can never win, it takes two hearts.
Two hearts, two hearts just to hold love
Two hearts, two hearts just to hold your love
Your love.

Two Hearts,
CHRIS ISAAK

Is it fair?

I'm telling you it's not.


THE BEATLES - You've Got To Hide Your Love Away

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Vamos fingir ou fazer de conta?

Vamos fingir que sabes o significado das palavras que me disseste. Vamos fingir que te importas. Vamos fingir que me queres. Vamos fazer de conta que não a queres. Vamos fingir que consegues tomar uma decisão. Vamos fingir que tomas uma decisão daqui a dois dias. Vamos fingir que és feliz. Vamos fingir que eu sou feliz. Vamos fingir que és feliz sem ela. Vamos fingir que és infeliz sem mim.

Vamos ser realistas de uma vez por todas.
A Deolinda sabe sempre do que fala! E tenho dito.


DEOLINDA - Um Contra O Outro


Anda, desliga o cabo,
que liga a vida, a esse jogo,
joga comigo, um jogo novo,
com duas vidas, um contra o outro.

Já não basta,
esta luta contra o tempo,
este tempo que perdemos,
a tentar vencer alguém.

Ao fim ao cabo,
o que é dado como um ganho,
vai-se a ver desperdiçamos,
sem nada dar a ninguém.

Anda, faz uma pausa,
encosta o carro,
sai da corrida,
larga essa guerra,
que a tua meta,
está deste lado,
da tua vida.

Muda de nível,
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Anda, mostra o que vales,
tu nesse jogo,
vales tão pouco,
troca de vício,
por outro novo,
que o desafio,
é corpo a corpo.

Escolhe a arma,
a estratégia que não falhe,
o lado forte da batalha,
põe no máximo o poder.

Dou-te a vantagem, tu com tudo, eu sem nada,
que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Círculos sem firmeza

Sobre quantas voltas constróis a tua vida? Finge-te foragido e vais perdendo a corrida...

terça-feira, 9 de novembro de 2010


DEOLINDA - Lisboa Não É A Cidade Perfeita


‘Inda bem que o tempo passou
e o amor que acabou não saiu.
‘Inda bem que há um fado qualquer
que diz tudo o que a vida não diz.
Ainda bem que Lisboa não é
a cidade perfeita p’ra nós.
Ainda bem que há um beco qualquer
que dá eco a quem nunca tem voz.
‘Inda agora vi a louca sozinha a cantar,
do alto daquela janela.
Há noites em que a saudade me deixa a pensar:
Um dia juntar-me a ela.
Um dia cantar…
como ela.

‘Inda bem que eu nunca fui capaz
de encontrar a viela a seguir.
‘Inda bem que o Tejo é lilás
e os peixes não param de rir.
Ainda bem que o teu corpo não quer
embarcar na tormenta do réu.
Ainda bem se o destino quiser
esta trágica historia, sou eu.
‘Inda agora vi a louca sozinha a cantar,
do alto daquela janela.
Há noites em que a saudade me deixa a pensar:
Um dia juntar-me a ela.
Um dia cantar…
como ela.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sim, monólogo

"Romeu, o teu nome é um pacto e um relógio.
Entrego-te o meu nome e permaneço imune
ao mundo, à mentira e à passagem dos anos.

Romeu adolescente, perdido e camuflado
nas minhas ilusões. Lírico Romeu, que volto
a baptizar, agora com sangue em vez de água.

Coincidimos à frente e atrás de uma pistola
carregada. Romeu, o teu nome chama-me
pela voz com que a morte chama o amor.

Somos derrotados por um outono defeituoso,
como por um poema errado ou pelo mar. Ali,
pouco longe, um túmulo precisa do nosso calor."

- JOSÉ LUÍS PEIXOTO, "Monólogo"

Parabéns Mãe!

A Mãe fez anos ontem e esta era para ela, por todo o amor que lhe tenho.
Parabéns Mãe!


SPICE GIRLS - Mama

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

You're missing me

He's got a whole lotta reasons
He can't think of a single one that could justify leavin'
She got none but she think she got so many problems
And she got too much time to waste
His dreams are like commercials
But her dreams are picture perfect and
Dreams are so related though they're often under estimated
la da da...
Simple is something that nobody knows
her eyes are as big as her bubbly toes
On the feet of a queen in the hearts of the garden
Feet are infested with tarballs
la da da...
If you would only listen
You might just realize what you're missin'
You're missin' me

You're Missing Me
,
JACK JOHNSON

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Enquanto afastados, desnorteados.

De um parapeito da janela solta-se a vontade de te ter a mim atrelado. O vento partilha comigo o desejo de voar para longe daqui, mas voasse eu como ele e teria a força necessária para te fazer vir ao meu lado.
Nunca produzi correntes de atracção como ele de ar. Se o vento quiser, leva tudo pela frente. Eu não te consigo levar a ti.
Colaste-te à terra, um patamar seguro de onde não te vês cair. E no entanto, contigo no chão, comigo à janela funcionamos como um íman. Eu sou um polo, tu o outro. Formamos um dipolo que pela natureza que lhe é intrínseca, não pode ser separado. (ou pode?)
Porque se nos dividem na vida nascem dois ímanes menores cujos polos se recriam. O tamanho diminui mas a intensidade não esmorece. O polo sul continua sempre atraído pelo norte uma e outra vez, continuamente, eternamente. A hipótese da inseparabilidade dos polos nunca foi corroborada. Seremos nós os primeiros a faze-lo?
E se esses polos magnéticos de dois ímanes se aproximarem, as forças magnéticas interagem entre si de forma singular. E para nos repelirmos teríamos que ser iguais. Mas não somos! Tu estás aí em baixo e eu aqui à janela! Invertemos os lugares e as linhas de força escasseiam agora no teu espaço. São linhas invisíveis, fortes do meu lado e fracas do teu. Mas mais uma vez: são as forças opostas as que se atraem. E se podemos armar um equilíbrio e apanhar o seu balanço, para quê recuar?
Se a origem do magnetismo reside no berço da nossa organização atómica, para quê elevarmos a nossa escolha aos mais altos planos da racionalidade?
Se a atracção é espontânea, para quê impor a distância?
Enquanto afastados, desnorteados.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

De mim para os outros, o invisionável.

"O desgosto de não encontrar nada encontrei comigo pouco a pouco. Não achei razão nem lógica senão a um cepticismo que nem sequer buscava uma lógica para se defender. Em curar-me disto não pensei - por que me havia eu de curar disso? E o que era ser são? Que certeza tinha eu que esse estado de alma deva pertencer à doença? Quem nos afirma que, a ser doença, a doença não era mais desejável, ou mais lógica, ou mais, do que a saúde? A ser a saúde preferível, porque era eu doente se não por naturalmente o ser, e se naturalmente o era, por que ir contra a Natureza, que para algum fim, se fim ela tem, me quereria decerto doente?
Nunca encontrei argumentos senão para a inércia. Dia a dia mais e mais se infiltrou em mim a consciência sombria da minha inércia de abdicador. Procurar modos de inércia, apostar-me a fugir a todo o esforço quanto a mim, a toda a responsabilidade social - talhei nessa matéria de a estátua pensada da minha existência.
Deixei leituras, abandonei casuais caprichos de este ou aquele modo estético da vida. Do pouco que lia aprendi a extrair só elementos para o sonho. Do pouco que presenciava, apliquei-me a tirar apenas o que se podia, em reflexo distante e errado, prolongar mais dentro de mim.
Esforcei-me porque todos os meus pensamentos, todos os capítulos quotidianos da minha experiência me fornecessem apenas sensações. Criei à minha vida uma orientação estética. E orientei essa estética para puramente individual. Fi-la minha apenas.
Apliquei-me depois, no decurso procurado do meu hedonismo interior, a furtar-me às sensibilidades sociais. Lentamente me couracei contra o sentimento do ridículo. Ensinei-me a ser insensível quer para os apelos dos instintos quer para as solicitações.
Reduzi ao mínimo o meu contacto com os outros. Fiz o que pude para perder toda a afeição à vida. Do próprio desejo da glória lentamente me despi, como quem cheio de cansaço se despe para repousar.
Do estudo da metafísica, das ciências, passei a ocupações de espírito mais violentas para o equilíbrio dos meus nervos. Gastei apavoradas noites debruçado sobre volumes de místicos e de cabalistas, que nunca tinha paciência para ler de todo, de outra maneira que não intermitentemente, trémulo e . Os ritos e as razões dos Rosa-Cruz, a simbólica da Cabala e dos Templários, - sofri durante tempos a opressão de tudo isso. E encheram a febre dos meus dias especulações venenosas, da razão demoníaca da metafísica - a magia, a alquimia - extraindo um falso estímulo vital de sensação dolorosa e presciente de estar como que sempre à beira de saber um mistério supremo. Perdi-me pelos sistemas secundários, excitados, da metafísica, sistemas cheios de analogias perturbantes, de alçapões para a lucidez, grandes paisagens misteriosas onde reflexos de sobrenatural acordam mistérios nos contornos.
Envelheci pelas sensações… Gastei-me gerando os pensamentos… E a minha vida passou a ser uma febre metafísica, sempre descobrindo sentidos ocultos nas coisas, brincando com o fogo das analogias misteriosas, procrastinando a lucidez integral, a síntese normal para se denegrir.
Caí numa complexa indisciplina cerebral, cheia de indiferenças. Onde me refugiei? Tenho a impressão de que não me refugiei em parte nenhuma.
Abandonei-me, mas não sei a quê.
Concentrei e limitei os meus desejos, para os poder requintar melhor.
Para se chegar ao infinito, e julgo que se pode lá chegar, é preciso termos um porto, um só, firme, e partir dali para Indefinido.
Hoje sou ascético na minha religião de mim. Uma chávena de café, um cigarro e os meus sonhos substituem bem o universo e as suas estrelas, o trabalho, o amor, até a beleza e a glória. Não tenho quase necessidade de estímulos. Ópio tenho-o eu na alma.
Que sonhos tenho? Não sei. Forcei-me por chegar a um ponto onde nem saiba já em que penso, com que sonho, o que visiono. Parece-me que sonho cada vez de mais longe, que cada vez mais sonho o vago, o impreciso, o invisionável.
Não faço teorias a respeito da vida. Se ela é boa ou má não sei, não penso. Para meus olhos é dura e triste, com sonhos deliciosos de permeio. Que me importa o que ela é para os outros!
A vida dos outros só me serve para eu lhes viver, a cada um a vida que me parece que lhes convém no meu sonho."

- BERNARDO SOARES, in "Livro do Desassossego"
...
What if this storm ends?
And leaves us nothing
Except a memory
A distant echo
...

The Lightning Strike,
SNOW PATROL