terça-feira, 2 de novembro de 2010

Enquanto afastados, desnorteados.

De um parapeito da janela solta-se a vontade de te ter a mim atrelado. O vento partilha comigo o desejo de voar para longe daqui, mas voasse eu como ele e teria a força necessária para te fazer vir ao meu lado.
Nunca produzi correntes de atracção como ele de ar. Se o vento quiser, leva tudo pela frente. Eu não te consigo levar a ti.
Colaste-te à terra, um patamar seguro de onde não te vês cair. E no entanto, contigo no chão, comigo à janela funcionamos como um íman. Eu sou um polo, tu o outro. Formamos um dipolo que pela natureza que lhe é intrínseca, não pode ser separado. (ou pode?)
Porque se nos dividem na vida nascem dois ímanes menores cujos polos se recriam. O tamanho diminui mas a intensidade não esmorece. O polo sul continua sempre atraído pelo norte uma e outra vez, continuamente, eternamente. A hipótese da inseparabilidade dos polos nunca foi corroborada. Seremos nós os primeiros a faze-lo?
E se esses polos magnéticos de dois ímanes se aproximarem, as forças magnéticas interagem entre si de forma singular. E para nos repelirmos teríamos que ser iguais. Mas não somos! Tu estás aí em baixo e eu aqui à janela! Invertemos os lugares e as linhas de força escasseiam agora no teu espaço. São linhas invisíveis, fortes do meu lado e fracas do teu. Mas mais uma vez: são as forças opostas as que se atraem. E se podemos armar um equilíbrio e apanhar o seu balanço, para quê recuar?
Se a origem do magnetismo reside no berço da nossa organização atómica, para quê elevarmos a nossa escolha aos mais altos planos da racionalidade?
Se a atracção é espontânea, para quê impor a distância?
Enquanto afastados, desnorteados.

2 comentários:

Sara Gonçalves disse...

eu ADORO a forma como escreves, a sério *.*
gosto do sentimento que pões ou tentas dar a cada palavra. Os teus textos parecem tão adequados para quase toda a gente, pelo menos uma vez na vida :o
é lindo realmente, parabéns (:

Joana Figueiredo Gonçalves disse...

Oh Sara muito obrigada! Não tenho palavras para te agradecer o que disseste... Fico mesmo contente por conseguir provocar reacções às minhas palavras! É assim que a minha escrita fica completa.
*