quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Há dias assim.

Remexendo nas palavras que me fazem sentir, lembrei-me deste meu pequeno devaneio poderia ter sido escrito hoje...

Perdoem-me a repetição, mas hoje estou assim!

«Something's Missing»

...
When autumn comes,
it doesn't ask.
It just walks in where it left you last.
You never know when it starts
Until there's fog inside the glass around your summer heart.
...

Something's Missing,
JOHN MAYER

terça-feira, 28 de setembro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Objecto amoroso não é a grande unidade de sentido e significação

"O nosso mundo tão pragmático é também paradoxal. Só por isso se entende que o seu âmago de motivações seja múltiplo e rode em torno, umas vezes de dimensões que consideramos materialistas ou funcionais, outras de um romantismo serôdio e inexplicável.
As histórias de amor fazem parte integrante desse núcleo central de razões que nos fazem mexer. Por mais escamoteadas que sejam na sua real importância, por mais periféricas que queiramos que sejam, o facto incontornável é que a maioria das pessoas, em algum momento da sua vida, faz do seu objeto amoroso a grande unidade de sentido e significação.
É sobre uma relação amorosa que, frequentemente, assentam opções e escolhas de todo o tipo que depois se transformam em trajetórias de vida.
Mas embora as histórias de amor se assemelhem e mobilizem impulsos, emoções e sentimentos idênticos em diferentes pessoas, o facto é que crescem, se desenvolvem e morrem com diferentes estruturas relacionais.
Nuns casos, a ausência, a distância física, que normalmente faz pensar também na distância emocional, de acordo com o velho princípio do "longe da vista, longe do coração", parece ajudar a idealização e facilitar que o Outro permaneça no tempo como um objeto de desejo.
Noutros casos, pelo contrário, a história constrói-se sobre uma presença permanente, uma partilha constante, uma proximidade física que não imagina nem suporta qualquer espécie de ausência.
A presença e a ausência, que por si mesmas não definem sentimentos nem justificam qualidades de afetos, acabam por ser estilos relacionais que, com a continuidade, se transformam em verdadeiros estilos de vida.
Quem se habitua a ter um objeto de amor em fundo sem, contudo, contaminar o quotidiano de pequenas adaptações e cedências, resiste o mais que pode à proximidade que sente como invasão do seu espaço.
Quem faz da partilha e da comunhão de todos os momentos uma forma de amor, não entende o interesse e a ligação de uma relação sem presença.
Às vezes, as histórias de amor fazem-se de ausências, outras vezes, pelo contrário, de presenças. Apenas porque sim."

- ISABEL LEAL, crónica "Longe da Vista"

sábado, 25 de setembro de 2010

As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era.

CAIO FERNANDO ABREU, in "Triângulo Das Águas"

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Silence!

Mas fiquei calada, aguentando o peso das minhas asas…

— CLARICE LISPECTOR

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Let's pretend we know who we are

Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso. Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna

— CAIO FERNANDO ABREU

É.

(…) O que eu não sabia nem poderia saber —em parte porque aos 20 anos a gente pouco sabe além da própria fome, em parte porque não podia, nem posso ou podemos, prever o futuro — é que embora parecesse tarde, era ainda cedo. (…) Ó Deus, como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente. (…)

— CAIO FERNANDO ABREU

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um mundo em bico

Estou apaixonada pelas descrições presentes no livro que me encontro a ler. Aliás, todo o livro se materializa numa descrição do Japão, um país com vários corações, um em cada luz que se acende e apaga, todas elas formando um manto branco com palpites vermelhos de quando em quando. E é nesta viagem por páginas inteiras de descrição que vou descobrindo um mundo diferente do nosso, uma sociedade acelerada com multidões em todas as ruas e agradáveis pormenores que entre elas nascem que estou agora a conhecer.

"Em Shinjuku o fim da tarde é o azul do céu baixando, escurecendo, e – como um contra-peso, como se as coisas estivessem ligadas – as luzes de néon acendendo-se; e as pessoas passando mais e mais, e as janelas iluminadas aparecendo nos prédios com silhuetas negras, e os sons clareando (passos, uma voz ao longe, a porta de uma cabine telefónica, o tilintar das garrafas no cesto de uma bicicleta), e os brilhos pequenos deslizando nos automóveis, e à beira da estrada, na avenida, um homem velho de boné e acendendo um cigarro com toda a calma do mundo; o homem depois, de cigarro na boca, levantando os olhos – isso é o que me faz pensar no fim da tarde. No meio da rua, no meio de tantas coisas (vozes, rostos, corpos, cores), a sensação de que tudo está ligado entre si, que, de certa forma obscura, inexplicável, por linhas muito finas, transparentes, tudo se toca."

JACINTO LUCAS PIRES, in "Livro Usado (numa viagem ao Japão)"

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

sábado, 11 de setembro de 2010

A simplicidade do fundamental

Tenho saudades do que é breve e vai para além dos barcos. Esvai com a alvorada…


-RUDINEI BORGES
I used to write,
I used to write letters I used to sign my name
I used to sleep at night
Before the flashing lights settled deep in my brain

But by the time we met
By the time we met the times had already changed

So I never wrote a letter
I never took my true heart I never wrote it down
So when the lights cut out
I was left standing in the wilderness downtown

Now our lives are changing fast
Now our lives are changing fast
Hope that something pure can last
Hope that something pure can last

It seems strange
How we used to wait for letters to arrive
But what's stranger still
Is how something so small can keep you alive

We used to wait
We used to waste hours just walking around
We used to wait
All those wasted lives in the wilderness downtown

oooo we used to wait
oooo we used to wait
oooo we used to wait
Sometimes it never came
(oooo we used to wait)
Sometimes it never came
(oooo we used to wait)
Still moving through the pain
(oooooo)

I'm gonna write a letter to my true love
I'm gonna sign my name
Like a patient on a table
I wanna walk again gonna move through the pain

Now our lives are changing fast
Now our lives are changing fast
Hope that something pure can last
Hope that something pure can last

oooo we used to wait
oooo we used to wait
oooo we used to wait
Sometimes it never came
(oooo we used to wait)
Sometimes it never came
(oooo we used to wait)
Still moving through the pain
(oooooo)

we used to wait (x3)

We used to wait for it
We used to wait for it
Now we're screaming sing the chorus again
We used to wait for it
We used to wait for it
Now we're screaming sing the chorus again

I used to wait for it
I used to wait for it
Hear my voice screaming sing the chorus again

Wait for it

We Used To Wait
,
ARCADE FIRE

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O senhor dos clássicos!

There may be trouble ahead,
But while there's moonlight and music and love and romance,
Let's face the music and dance

Before the fiddlers have fled,
Before they ask us to pay the bill,
And while we still have the chance,
Let's face the music and dance

Soon, we'll be without the moon,
Humming a different tune
And then...

There may be teardrops to shed,
So while there's moonlight and music and love and romance,
Face the music and dance

Before the fiddlers have fled
Before they ask us to come up with the bill,
And while we still have got that chance,
Face that music and dance

Soon, we'll be without the moon,
Humming a different tune,
And then...

There may be teardrops to shed
So while there's moonlight and music and love and romance,
Let's face the music and dance
Dance
Let's face the music,
Look at that music
Why not face the music and dance?

Let's Face The Music And Dance
,
FRANK SINATRA

A verdade oculta

"Não querer é poder."

- BERNARDO SOARES, in "Livro do Desassossego"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A alegria do it it it

J'adore, j'adore, j'adore!
Recuso-me a ficar triste. Sejamos alegres. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou - apesar de tudo oh apesar de tudo - estou sendo alegre neste instante - já que passa se eu não fixá-lo com palavras. Estou sendo alegre neste mesmo instante porque me recuso a ser vencida: então eu amo. Como resposta. Amor impessoal, amor it, é alegria. Mesmo o amor que não dá certo, mesmo o amor que termina. E a minha própria morte e a dos que amamos tem que ser alegre, não sei ainda como, mas tem que ser. Viver é isto: a alegria do it. E conformar-me não como vencida mas num allegro com brio.

— CLARICE LISPECTOR

O vento leva mesmo!

...
- Como pode alguém sonhar o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer e isso, eu vi, o vento leva!
- Não sei mas sinto que é como sonhar que o esforço p'ra lembrar é a vontade de esquecer...


- RODRIGO AMARANTE

«haverá dias quentes de sol»

"Para lá de um conceito, muito em moda, mas tortuoso e escorregadio, que nos faz ir atrás de mais umas receitas que, se fôssemos capazes de replicar devidamente, mudando atitudes, estilos de vida, companheiros de percurso, condições de vida e, sobretudo, formas de ser e de sentir, nos colocariam numa senda de bem-estar imparável, essa coisa da felicidade tem muito que se lhe diga.

A primeira, e a mais incontornável, é que cada um de nós chama felicidade a sensações distintas. Se para alguns é assimilada a paz, tranquilidade, facilidade de gestão do quotidiano, algum despojamento que atualiza e ocidentaliza milenares perspetivas zen, outros veem nela, pelo contrário, um estado de espírito intenso e apaixonado que, por vezes, desce sobre as suas cabeças, assim como se fora uma versão modernizada do espírito santo.

Mas a maioria das pessoas, por mero bom senso, diga-se, tem da felicidade uma visão dualista e polarizada, avaliando o seu grau de felicidade pela infelicidade que sabem ou julgam ser possível.

E a infelicidade absoluta, que se associa ao vazio afetivo e à miséria humana, reside, na ideação íntima de cada um de nós, em situações-limite de perda de sentido e de significação.

A infelicidade sem consolo existe quando não se ama e não se é amado, quando não se valoriza o que se tem e o que se conhece, quando se mergulha na depressão que empobrece a visibilidade e a projeção no futuro.

Desse modo arrevesado, consegue-se que o conceito de felicidade mais circulante seja sempre positivo e até elevado. Ainda que frustrados em aspetos particulares, inseguros ou queixosos; ainda que tristonhos, zangados ou receosos, a maioria de nós tem a convicção de que, mesmo que de momento seja inverno, haverá dias quentes de sol, encontros luminosos, gargalhadas frescas, beijos calorosos, gestos redentores.

O que nos faz feliz, talvez estranhamente, é saber que a felicidade e a infelicidade são estados de espírito que, ainda que influenciados pelo que acontece à volta, refletem o que de mais profundo conseguimos elaborar, atualizar e transformar em nós.

O que nos faz felizes, mesmo quando estamos infelizes, é acreditar que amanhã será outro dia."

- ISABEL LEAL, crónica "O Que Nos Faz Feliz", 2 Set 2010

sábado, 4 de setembro de 2010

A palavra que soou

"Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais. Tentaria, então, com toda a delicadeza possível, sem decidir propriamente decidiu no meio da tarde — uma tarde morna demais, preguiçosa demais para conter esse verbo veemente: decidir. Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.

Só que, como de hábito, na cabeça (como que separada do mundo, movida por interiores taquicardias, adrenalinas, metabolismos) se passava uma coisa, e naquele ponto em que isso cruzava com o de fora, esse lugar onde habitamos outros, começava a região do incompreensível: Lá, onde qualquer delicadeza premeditada poderia soar estúpida como um seco: não. E soou, em plena mesa posta.

Tanto pasmo, depois. Sozinho no apartamento, domingo à noite. Todas as coisas quietas e limpas, o perfume adocicado das madressilvas roubadas e o bolo de chocolate intocado no refrigerador — até a televisão falar da explosão nuclear subterrânea. Então a suspeita bruta: não suportamos aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós. Afirmou, depois acendeu o cigarro, reformulou, repetiu, acrescentou esta interrogação: não suportamos mesmo aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós? Não, não suportamos essa doçura.

Puro cérebro sem dor perdido nos labirintos daquilo que tinha acabado de acontecer. Dor branca, querendo primeiro compreender, antes de doer abolerada, a dor. Doeria mais tarde, quem sabe, de maneira insensata e ilusória como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos. Que talvez, pensava agora, nem tivessem sido tão paradisíacos assim.

Porque havia o sufocamento daquela espécie de patético simulacro de fantasia matrimonial provisória, a dificuldade de manter um clima feito linha esticada, segura para não arrebentar de súbito, precipitando o equilibrista no vazio mortal. Cheio de carinho, remexeu no doce, sem empurrar o prato. Preferia a fome: só isso. Pelo longo vício da própria fome — e seria um erro, porque saciar a fome poderia trazer, digamos, mais conforto? — ou de pura preguiça de ter que reformular-se inteiro para enfrentar o que chamam de amor, e de repente não tinha gosto?

De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação? Espera, vamos conversar, sugeriu sem muito empenho. Tarde demais, porta fechada. Sozinho enfim, podia remexer em discos e livros para decidir sem nenhuma preocupação de harmonia-com-o-gosto-alheio que sempre preferira um Morrison a Manuel Bandeira. Sid Vicious a Puccini. A mosca a Uma janela para o amor, sempre uma vodca a um copo de leite: metal drástico. Era desses caras de barba por fazer que sempre escolherão o risco, o perigo, a insensatez, a insegurança, o precário, a maldição, a noite — a Fome maiúscula. Não a mesa posta e farta, com pratos e panelas a serem lavados na pia cheia de graxa — mas um hambúrguer qualquer para você que escrevo. Mas os escritores são muito cruéis, você me ama pelo que me mata com coca-cola no boteco da esquina, e a vida acontecendo em volta, escrota e nua.

Não muito confuso, assim confrontado com sua explícita incapacidade de lidar com. A palavra não vinha. Podia fazer mil coisas a seguir. Mas dentro de qualquer ação, dentes arreganhados, restaria aquela sua profunda incapacidade de lidar com. Um instante antes de bater outra, colocar uma velha Billie Holiday e sentar na máquina para escrever, ainda pensou: gosto tanto de você, baby. Só que os escritores são seres muito cruéis, estão sempre matando a vida à procura de histórias. Você me ama pelo que me mata. E se apunhalo é porque é para você, para você que escrevo — e não entende nada."

- CAIO FERNANDO ABREU, Crónica "Anotações Insensatas" , in O Estado de S. Paulo, 22/4/1987

A liberdade existe no isolamento

"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o hermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.
Por isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É que ali está um liberto, embora o não quisesse ser. É que ali não está um escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa é o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é superior, assim o morto pode ser disforme, mas é superior porque a morte o libertou.
Fecho, cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e num momento tenho a liberdade. Amanhã voltarei a ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém, receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-me, tenho a minha pequena liberdade, os meus momentos de exelcis.
Na cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime. Não me dói senão ter-me doído."

- FERNANDO PESSOA

A song for blue days

When everything we felt failed
And some music soft in distant sails
But it don't sound like it did before
Then i know i'm left with nothing more
Than my own soul
When pretty pictues face back
But your coats aren't hanging on the rack
And blue water turns to
A place that i can't get to
A place that i can't
In a room all i feel
Is the cold that you left
Through the air all i see
Is your face full of blame
What's left to see
What's there to see
In the room all i feel
Is the cold that you left
Through the air all i see
Is your face full of blame
What's left to see
What's there to see
What's left to see

Songs For A Blue Guitar
,
RED HOUSE PAINTERS

Woods

Effy - Hit me.
Freddie - What?
Effy - Just... Just once. I want to feel something. HIT ME!

(quotes from "Skins")

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

From where she's standing

Uma amiga não de há muito mas muito boa, do Porto, e que muitos de vocês conhecem apenas aqui mas que eu já tive o prazer de conhecer pessoalmente enviou-me este mimo. Oh Joana, gosto tanto de ti! Oxalá estivesses mais perto de nós...



From where i'm standing
you're the quiet side of the road
you're looking so lonely
and i can't stop looking at you
your head is hanging
trying to beat those goodbye blues
i bet you'll be fine
i bet you'll be fine

i guess it's not the way
you always planned it
looks like you're heading for a
crash landing
that's just the way it looks
from where i'm standing
from where i'm standing

from where i'm standing
i think i caught your eye
are you looking at me
cause i swear i saw you smile
and i'm coming over
gonna take things off your mind
and i bet you'll be fine
and i bet you'll be fine

i guess it's not the way
you always planned it
looks like you're heading for a
crash landing
that's just the way it looks
from where i'm standing

from where i'm standing
let it fall
let it come down
let it crash around you
around you

i guess it's not the way
you always planned it
looks like you're heading for a
crash landing
that's just the way it looks
from where i'm standing
that's just the way it looks
from where i'm standing
from where i'm standing
i might make you mine
i might make you mine
from where i'm standing

From Where I'm Standing,
SCHUYLER FISK

Antíteses infundadas

"Agosto. Onze e meia.
É como se devesse algo a alguém
e tudo está sereno.
(...)"

- JORDI VIRALLONGA, "Tudo está sereno" in "Quanto Sei De Mim"
Juro que o previ. Pensei para mim mesma que aconteceria hoje, pouco tempo depois de eu abandonar a azáfama.
E então lá estava eu, sentada para o regresso. Distraí-me. E momentos depois o raio da ironia do destino atacou-me.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sabores de uma viagem ao continente africano!

Adoraria fugir deste beco. Seguiria pelo mar, aproveitando a ondulação para encorpar doces movimentos que no fim da viagem me saberão a dança. Da vida deixada p’ra lá do porto, trazer-me-ia apenas a mim, negligenciando todas as caras que não me fizeram ficar. Seria uma ida com aroma a arroz de coco e no topo da ementa uma alegria por devorar. Lá, de pés assentes em terra quente procuraria os mapas que nem sei ler porque turista que se preze não se esquece de os encaixar na algibeira. Cedo me derreteria por entre brincadeiras de meninos de rua e crianças penduradas a braços ossudos e coladas a peitos secos. Invejaria os tempos de meninice daqueles rapazes que sobem às árvores para apanhar mangas, e que perto do céu eles estão! Eu, foragida da minha própria vida, nem consigo andar direito com os pés sobre o meu chão e ainda anseio manter-me firme no ar! Que utopia! Mesmo assim, seguir-lhes-ia os braços sedentos de comida que se confundiam com os galhos da mesma cor. Fossem os meus objectivos tão fáceis de alcançar e não seria preciso ser levada pela imaginação até terras africanas. Comprei-lhe umas frutas, penso, oferecendo-lhe mais do que o pobre preço que a criança julgava justo. Em comparação, decerto que aqueles meticais em excesso lhe fariam mais falta a ele do que ao meu bolso. O menino, visivelmente agradado, pegar-me-ia no braço e conduzido a sua casa. Cabana, digo. Palhota, corrijo. Era uma divisão única que o acolhia a ele e aos seus sete irmãos, ficando a mãe com o espaço equivalente a o de uma adolescente escanzelada e de altura diminuída. O pai? Morto no decurso de uma discussão acesa, contou-me uma jovem vizinha que falava inglês. O coitado defendia o filho cujas mangas dessa tarde tinham sido roubadas por uma criança do povo vizinho. O pai do ladrão, que aos meus olhos teria furtado a fruta para alimentar a sua família esfomeada, não gostou do tom do pai queixoso e com um dente de marfim, a relíquia da família que trazia presa à cintura, feriu-o gravemente para defender a honra do seu menino. O homem viria a sucumbir. Incrivelmente, aquela gente tinha um poder de ultrapassar a dor que me atordoava e ao mesmo tempo inspirava. Sem pais, maridos, filhas ou braços, às vezes pernas pela metade, aquele povo dançava alegre ao som da pura música que criavam com instrumentos dos mais rudimentares que consegui imaginar. Bailavam os seus cabelos ao mesmo ritmo dos membros, numa dança hipnotizante. Fingi-os a cantar canções de esperança, todas elas um hino à vida. Estávamos agarrados numa roda humana, os corpos entrelaçados uns nos outros, ao pôr-do-sol avermelhado.

Foi uma viagem magnífica esta que adorava fazer. Quem sabe, um dia? Por enquanto, posso embebedar-me com o modo de pensar das gentes que imaginei. Inspirador, não?