"Para lá de um conceito, muito em moda, mas tortuoso e escorregadio, que nos faz ir atrás de mais umas receitas que, se fôssemos capazes de replicar devidamente, mudando atitudes, estilos de vida, companheiros de percurso, condições de vida e, sobretudo, formas de ser e de sentir, nos colocariam numa senda de bem-estar imparável, essa coisa da felicidade tem muito que se lhe diga.
A primeira, e a mais incontornável, é que cada um de nós chama felicidade a sensações distintas. Se para alguns é assimilada a paz, tranquilidade, facilidade de gestão do quotidiano, algum despojamento que atualiza e ocidentaliza milenares perspetivas zen, outros veem nela, pelo contrário, um estado de espírito intenso e apaixonado que, por vezes, desce sobre as suas cabeças, assim como se fora uma versão modernizada do espírito santo.
Mas a maioria das pessoas, por mero bom senso, diga-se, tem da felicidade uma visão dualista e polarizada, avaliando o seu grau de felicidade pela infelicidade que sabem ou julgam ser possível.
E a infelicidade absoluta, que se associa ao vazio afetivo e à miséria humana, reside, na ideação íntima de cada um de nós, em situações-limite de perda de sentido e de significação.
A infelicidade sem consolo existe quando não se ama e não se é amado, quando não se valoriza o que se tem e o que se conhece, quando se mergulha na depressão que empobrece a visibilidade e a projeção no futuro.
Desse modo arrevesado, consegue-se que o conceito de felicidade mais circulante seja sempre positivo e até elevado. Ainda que frustrados em aspetos particulares, inseguros ou queixosos; ainda que tristonhos, zangados ou receosos, a maioria de nós tem a convicção de que, mesmo que de momento seja inverno, haverá dias quentes de sol, encontros luminosos, gargalhadas frescas, beijos calorosos, gestos redentores.
O que nos faz feliz, talvez estranhamente, é saber que a felicidade e a infelicidade são estados de espírito que, ainda que influenciados pelo que acontece à volta, refletem o que de mais profundo conseguimos elaborar, atualizar e transformar em nós.
O que nos faz felizes, mesmo quando estamos infelizes, é acreditar que amanhã será outro dia."
- ISABEL LEAL, crónica "O Que Nos Faz Feliz", 2 Set 2010
A primeira, e a mais incontornável, é que cada um de nós chama felicidade a sensações distintas. Se para alguns é assimilada a paz, tranquilidade, facilidade de gestão do quotidiano, algum despojamento que atualiza e ocidentaliza milenares perspetivas zen, outros veem nela, pelo contrário, um estado de espírito intenso e apaixonado que, por vezes, desce sobre as suas cabeças, assim como se fora uma versão modernizada do espírito santo.
Mas a maioria das pessoas, por mero bom senso, diga-se, tem da felicidade uma visão dualista e polarizada, avaliando o seu grau de felicidade pela infelicidade que sabem ou julgam ser possível.
E a infelicidade absoluta, que se associa ao vazio afetivo e à miséria humana, reside, na ideação íntima de cada um de nós, em situações-limite de perda de sentido e de significação.
A infelicidade sem consolo existe quando não se ama e não se é amado, quando não se valoriza o que se tem e o que se conhece, quando se mergulha na depressão que empobrece a visibilidade e a projeção no futuro.
Desse modo arrevesado, consegue-se que o conceito de felicidade mais circulante seja sempre positivo e até elevado. Ainda que frustrados em aspetos particulares, inseguros ou queixosos; ainda que tristonhos, zangados ou receosos, a maioria de nós tem a convicção de que, mesmo que de momento seja inverno, haverá dias quentes de sol, encontros luminosos, gargalhadas frescas, beijos calorosos, gestos redentores.
O que nos faz feliz, talvez estranhamente, é saber que a felicidade e a infelicidade são estados de espírito que, ainda que influenciados pelo que acontece à volta, refletem o que de mais profundo conseguimos elaborar, atualizar e transformar em nós.
O que nos faz felizes, mesmo quando estamos infelizes, é acreditar que amanhã será outro dia."
- ISABEL LEAL, crónica "O Que Nos Faz Feliz", 2 Set 2010
1 comentário:
A última frase diz tudo. Não é um dia mais cinzento de Inverno que vai fazer com que nos sintamos infelizes porque, como se costuma dizer, melhores dias virão.
Gosto dos excertos que colocas aqui :)
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