As palavras vão assentando no seu lugar à medida que o bloco treme, isto à custa do movimento da viagem em que me encontro.
Como é habitual, procurei um lugar à luz de uma janela. Porém, a claridade já não espreita neste canto tão a ocidental. Já é noite, bastante escura para a estação que ainda não terminou. Mesmo assim, continuo a preferir a segurança da existência de um mundo lá fora aos limites que outros lugares impõem.
A vista não se apresenta nítida por estas horas e obriga-me a outra concentração.
De braço dado com a minha constante curiosidade pela vida que segue lá fora surgem, nada inesperadamente, correntes e torrentes de perguntas condutoras das emoções que me preenchem. Esfusiantes, torrenciais, efusivas e explosivas, mistas, dignas de louvos de Whitman ou de um Campos febril. Conheço-as, na sua maioria, e tanto me preenchem de uma nostalgia agreste e reconfortante, como logo a seguir me obrigam, amargas, a um estado de abulia.
É do alto do meu - finalmente! - discernimento que escrevo. Os quilómetros que estou a percorrer foram decididos em pouco mais de meia hora, num impulso, e são o espelho da solução que procuro para o fim do meu estado letárgico. Os últimos meses actuaram em mim tal qual uma doença auto-imune faria. Como «adulta» que estou a tornar-me tenho atada a mim a responsabilidade de optar por atitudes que me tragam a felicidade e tudo o que é melhor para mim.
Teoricamente, tenho 13 dias para me refugiar na indecisão em que me movo e aprendi a mover. A bem dizer, reconheço que quanto menos dias demorar, melhor será para mim.
Se me posicionar correctamente no que conheço como o meu espaço, não há praticamente nada que agora me prenda aqui. Se o que farei "longe" pode esperar um ano, o que vou idealizar precisa de ser "já". Por mim.
E é assim, à luz dos próximos 2 dias, que vou construir o meu caminho.
Para já, vou admirar os apontamentos de luz que ora se escondem atrás das árvores negras como o carvão, ora se multiplicam, esplenderosos, entre a escuridão total da noite.
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