A noite estava quente, como que a convidar-me para me juntar a ela. A varanda do quarto, grande, dava para a parte de trás do apartamento. Não muito longe, e acompanhada pelo quase silêncio, conseguia observar os carros que povoavam a estrada e tentava imaginar cada tripulante e cada história que os acompanhava. Quantos deles estariam a sofrer? Em quantas vidas morava um homem, uma mulher verdadeiramente felizes?
Sentei-me no chão e deixei-me cair contra a parede, o corpo pousado de forma a deixar a cabeça encostada para poder espreitar o mundo através das grades verdes que me pareciam aprisionar. As grades, que não rodeavam toda a varanda, estavam alojadas na parede virada para o que não me pertencia. Não deviam ter mais de um metro de altura mas pareciam-me demasiado altas. Ao olhar para lá delas senti-me presa no mundo a que elas me confinavam. Vi-me ali isolada, sem qualquer vontade de me esgueirar por entre as brechas largas.
No meu mundo não há espaço para fugas ou caminhos alternativos. Pelo menos agora. Deixei o alheio escolher por mim. Há escolhas e escolhas, tantas quantos os pontinhos luminosos que estão ali em cima!
Bem, depois podemos reeditar as coisas! Quantas vezes já não me enganei a contar as estrelas que iluminam a noite? O que me agrada é poder recomeçar a contagem vezes sem conta e em direcções completamente diferentes. Desta vez isso parece estar a ser possível!
1 comentário:
e o acaso vai-te proteger enquanto andares distraída?
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