segunda-feira, 9 de março de 2009

A loucura ideal

D. Sebastião
Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa, in Mensagem


Estava hoje à tarde numa aula de Português a escrever algumas notas quando a professora me pediu para ler o poema seguinte! Apos te-lo lido fiquei impressionada com a forma como Fernando Pessoa conseguiu transmitir uma tão digna ideia em pouquissimas palavras!

Esta loucura a que o poeta se refere, não no sentido de demência, mas no sentido do sonho é encantadora!
Uma tremenda loucura de quem se sabe sonhador, uma fome pelo concretizar de um sonho... é inspiradora!

"Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há."
O corpo pode até perecer, mas o mito e o sonho permanecem, não desaparecem com ele.

E o apelo que Pessoa nos faz? É do mais simples e verdadeiro que existe: tomem o sonho e vivam-no, porque o Homem não é nada sem o sonho!

Por fim,
"Cadáver adiado que procria?"
Este magnífico verso não traduz mais do que maior das realidades... já não há por aí sonhadores que se apaixonam pela luta dos seus ideais ou quem viva para o sonho. Não há mais do que «cadáveres adiados» pobres em sonhos e embriagados pelo concreto.

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