domingo, 8 de maio de 2011

Marioneta imperfeita

A poucas palavras me tenho dedicado. Entre os meus emaranhados de palavras, encontrei este que nunca publiquei. Como falam palavras minhas por aqui...


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Mandaram-me fechar a persiana como quem manda fechar uma porta. Perdi a luz, murchou-me a alegria da mesma forma que uma flor murcha quando o sol e a água lhe faltam. Na minha vida tenho uma lua, mas falta-me o sol, a sapiência, o tempo. Falta-me o tempo que deixei para trás e esconderam-me o que não fui. Onde está esse eu? Por que portas me fecharam o caminho de volta a mim?
Lembro-me dos caminhos que iam dar à minha alegria. As formas da natureza faziam-me sombra enquanto eu me encontrava mergulhada em abraços que deixei de ter. Os braços embrulhavam-me de tal forma, com tanto amor, com tanto calor…
Ninguém tem a coragem de nos falar sobre a díade do amor. Dizem que a primeira se estabelece entre a mãe e o seu bebé, mas esquecem-se de referir que quando crescemos somos cuidados, amados, acarinhados e que não há intuição que governe uma relação. Essa díade tem uma química nova, outras leis que se apoderam de nós e nos conduzem no universo. O que acontece se a química morre? Passamos a ser controlados pela física, por mandamentos do movimento? Talvez. Reconheço uma mecanização em mim, uma automatização que me ordena as formas de um segundo sentir.
Somos como o universo, tendemos para a desordem. Quanto de mim tem a entalpia em si? Cada bocadinho, conto-vos eu. Toda eu me desorganizei, me perdi.
É reversível? A desordem, o desconcerto? Onde está o meu manual de instruções? Não vim com nenhum engenho? Não há negócios assentes em mercados onde se tratam das nossas cordas? A minha corda tem um nó. Ou então a corda da mão está presa na do coração.
Sou uma marioneta imperfeita, das que as crianças deixam de querer pegar por estarem num emaranhado de cordas.


(Julho 2010)

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