Gosto de acordar, espreguiçar-me
e correr para a janela.
Olhar o sol que sorrateiramente
emerge sobre o rio.
As nuvens:
primeiro indistinguíveis,
uns dias ausentes,
nos piores a encherem-me os olhos.
E o céu:
escuro, claro,
rosa, laranja, amarelo
e esbranquiçado!
Gosto do mar,
de me sentar na areia e
acompanhar o movimento das ondas.
Gosto da janela do comboio
e de lhe roubar a vista
que dá.
De ver o sol a dar brilho à água,
a crescer sobre a ponte e
elevar-se no céu.
E sair do comboio?
Aquele cheiro a maresia
ou o cheiro do rio
que nem sei se tem nome!
Quando a chuva cai
gosto de lhe fugir.
Não é correr, nada disso!
É não deixar
que me pise o cabelo,
que me molhe os pés,
que me inunde os livros,
as folhas e tudo o resto!
Que me persiga rua fora,
gota ante gota,
que me obrigue a mil malabarismos
para não deixar que me toque!
Gosto do cheiro a terra molhada,
da noite acompanhada pelas estrelas,
das noites na varanda,
das tardes em que peço músicas
que gosto que eles toquem.
Do cheiro à relva cortada,
das palavras que a caruma pronuncia sempre que a piso.
Adoro andar pela praia com
o calçado na mão.
As coisas simples,
mas as mais belas.
Gosto quando a lua está grande,
quando teima que é vaidosa
e usa e abusa do luar que lhe pertence.
Gosto de brincar,
gritar, amuar
e embirrar.
Gosto de ser um espírito livre,
quando falam do meu olhar e
de em resposta eu só querer fechar os olhos!
(a adorar!)
Gosto de ter a vida entre os dedos,
de me deixar levar,
de me perder.
De apanhar uma viagem para não sei onde
e sair onde calhar.
De parar aqui e ali
e admirar.
Quando o fim de tarde
me conduz para qualquer sitio
que nunca vi, ai adoro!
Adoro que ninguém me conheça,
que possa perguntar dez coisas
a três desconhecidos
porque ninguém me conhece,
nem sabe a minha história,
de onde vim e para onde vou!
Gosto do que não tem pés nem cabeça,
e de ter imensos sacos na mão
depois de várias horas de compras.
Gosto das pessoas,
dos espaços
e da ligação que nos une.
Gosto de experimentar,
experienciar...
E tentar!
Acho engraçado
que a minha crescente distracção
sirva para fazer rir os outros.
Gosto de dar a mão.
Gosto de chorar no ombro de uma amiga
que já não veja ao tempo,
que me limpe os olhos
e aprecie o meu silêncio,
as minhas palavras ausentes.
Gosto de me sentar no chão,
encostar-me à parede
e ficar ali, horas a conversar!
A rir!
A conhecer e a descobrir!
Quero ler todos os livros do mundo,
escrever as coisas que ainda não foram escritas,
viver o que nunca vivi e
ver-me como ninguém vê.
Às vezes irrita-me esta mania
de ser e não ser
que ninguém conhece
e só eu sei ver!
E esta ideia?
A de perceber o que não quero,
fugir do que não devia,
esquecer um pouco os dias e...
ainda acordar feliz?
Complicada, mas fácil!
Possível!
Ideal!
Gosto do riso,
de misturar o cabelo com os dedos.
Gosto de sorrir para a janela,
para a criança que se senta ao lado,
a que não tira os olhos de mim,
a envergonhada
e a que não me larga o ombro nas escadas rolantes.
Sabem?
Gosto de algum mistério.
Gravidade,
do chocolate,
dos gelados...
sim, também gosto!
Faltam o colocar o relógio no pulso direito,
as pérolas,
e a ideia do "Serendipity".
Gosto do fim da semana,
de entrar pela porta adentro
e sentir o calor do lar.
Do regresso,
de acordar quentinha e
enrolada na roupa da cama.
Gosto de fazer cócegas nos pés,
e em toda a parte!
Gosto de ir ao teatro,
de um filme que me deixe...
...emocionada...
De umas boas horas com amigos,
rua acima, rua abaixo.
De subir ao palco,
de ler para os miúdos,
da loucura ideal e
de ser parva!
Excêntrica,
exagerada,
eléctrica.
Gosto de mil abraços,
de mãos dadas aos saltos
quando contamos segredos
que mais ninguém vai ouvir.
Gosto do poema,
da poesia
e dos sentimentos.
Gosto dos afectos,
do amor,
de momentos,
de sentir e apagar a dor.
Gosto de fingir que não vejo.
Gosto do leite condensado,
das sobremesas antes de estarem prontas,
da cozinha cheia
e das conversas paralelas.
De andar a cavalo,
deixar o cabelo ao sabor do vento
e o corpo em sintonia com a velocidade do animal.
Gosto disto:
de ser sincera.
Dela por ela.
Do preto e do branco
(mas do cinzento também ora essa!).
Viva o rosa e o transparente!
Do passado,
das memórias,
das recordações.
Das partes boas e da nostalgia!
Dos últimos minutos,
dos últimos olhares,
de todas as súplicas.
Do futuro,
do amanhã
seja ele qual for!
Ou quase!
Do presente e de todo o tempo
que eu exijo ter!
Gosto de espreitar,
das asas,
da liberdade e de divagar!
Das noites de Verão,
de ouvir a chuva a beijar o telhado,
do vento a conduzir as folhas até nenhures.
Até gosto das surpresas,
daquilo que não sei e
está ali ao virar da esquina.
Gosto das coisas autênticas,
do que é espontâneo,
do inesperado,
do imprevisível,
do sonho que é real.
Gosto dos pés no chão,
do que não tem prazo para acabar,
do relógio parado,
quando ainda estamos no "antes de começar".
Ai, gosto de viver!
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